Thursday 30 July 2009

À espera da minha mulher

Por detrás do meu filho, neste retrato preto e branco da minha antiga família, vejo como o cinzento abraçou-me de repente. Naquele dia nojento, onde não encontro outras palavras para descrevê-lo. Naquela merdosa e asquerosa tarde que muitas lágrimas me trazem, em que esperava pela minha mulher e pelo meu filho de braços abertos. Estava à espera que a felicidade chegasse até mim, tal como um céu azul infinito, esperei horas pacientemente. Sentei-me na calçada para não me cansar, contava todos os automóveis que passavam por mim. Um vermelho, um azul, outro branco. Todas as cores e marcas passavam por mim como estrelas cadentes mas nenhuma delas pertenciam ao meu universo. Olhava para as silhuetas dos condutores. Umas mais parecidas com a minha mulher, outras nem por isso. Nestes momentos em que a ansiedade e a saudade estão cada vez mais excitadas, o engano leva-me a acenar para a pessoa errada. Mas eu não me importava com isso, porque as pessoas sabiam que não era com elas e continuavam a sua vida.

As nuvens passavam juntamente com as horas. A partir do momento que os minutos vão mais para além do combinado, o medo pela incerteza começa a dominar-me vagarosamente. Já cerca de uma hora tinha passado para além do combinado e resolvi telefonar-lhe. De todas as tentativas que fazia, quem me atendia era o gravador. O telemóvel continuava desligado. Comecei a ter medo por pensar se estava tudo bem com a minha mulher e com o meu filho. O que será que lhes aconteceu? Será que morreram? Ó meu Deus, o que me está a acontecer? Neste momento um frio começou a preencher-me o corpo e um arrepio acordou os meus sentidos, fazendo com que eu sentisse com cada vez mais força os segundos a passarem. Por cada salto dos ponteiros, um breu começou a preencher-me os olhos.

O que se passa nesta tarde, em que tudo está a correr tão bem, em que me sentia inserido na sociedade? Comecei a sentir que estava a cair num abismo onde só parava num beco metido nas profundezas desta terra, frio, molhado e completamente desligado das pessoas. Temi pela minha vida, pela incerteza do futuro e a certeza de que ia morrer mais cedo.

Neste momento ouço uma buzinadela. Para meu conforto, a mão da minha mulher começou a acenar. O carro parou à minha frente, dentro de um parque de estacionamento lateral à estrada. Lá estava o meu filho a sorrir para mim de forma tão inocente na cadeira de bébés. Respirei fundo e senti que ainda não era desta vez que tinha sido atraiçoado por Deus.

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