Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente,
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é de costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio,
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Hoje, troca-se o cloreto de sódio pelo transistor,
o preto pelo muçulmano, ou pelo israelita,
o ódio espalhou-se pelo mundo inteiro
não pela côr, mas pelo crescimento de um mundo irrealista.
Não há lume que queime as almas sem pudor
onde não compreendem a pena que vivem, ou que vivo,
não falo de cátedra porque sou o mais frágil que existe,
mas não me meto na boca do lobo ao primeiro motivo.
Posso ser pobre e morrer de fome,
mas a dignidade tem que persistir,
porque assim posso chorar com alegria,
e quando morrer, morro com a cabeça em riste.
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