Thursday 26 June 2008

Fátima

Fátima chorou até as lágrimas transformarem-se em cadáver. Diariamente, Fátima sentava-se sempre no mesmo canto com vergonha de alguém poder vê-la, de repararem no estado em que se encontrava. Os pensamentos não soavam de forma diferente. A princípio suportava o cheiro agonizante, mas começou a ver que a espera jamais traria as recompensas que tanto sonhava na infância. Como haveria mudar? Ninguém tem forças para transformar-se a si próprio. O corpo anda sempre viciado e é preciso alguém iluminar o caminho. Fátima vivia em permanente escuridão, seja de dia, seja de noite.

Fátima mantém-se num canto, apenas agarrada ao seu nome, desejando que ninguém a veja, que ninguém a recorde, à espera de cair no esquecimento.

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