Friday 4 July 2008

O faroleiro

A última gaivota afasta-se à procura de uma rocha inacessível algures na costa norte. Cada vez mais sózinho neste mundo, o faroleiro sente o fosso que existe entre os sonhos e as ervas selvagens do penhasco. Calmamente, entra dentro da casa de trabalho e, pausadamente, sobe um grande número de degraus até chegar ao gerador. Liga-o. Um barulho constante imediatamente ressalta pelas paredes. A noite acabou de chegar.

A luz da lua e o azul escuro do céu mostram-se aprisionados pelas janelas do farol. Trata-se de um farol branco, duro, forte, plantado no cimo de uma ilha deserta. As janelas minúsculas, apenas servem para iluminar o interior. Esta ilha encontra-se localizada num ponto estratégico onde os grandes cargueiros transportam dentro de contentores herméticos, sabe-se lá o quê. Também não lhe interessa saber, ele apenas tem a função de cuidar do marco luminoso.

O faroleiro poisou o farnel sobre uma mesa velha, esburacada pelo tempo, pela vida calma das térmitas. Trata-se de uma mesa dura e pesada, feita para fazer companhia a uma vida. O faroleiro desata o pano, desembrulha o jantar, abre o termo, olha para a comida. Deliciado com o cozido de enganos, sente que falta algo para ajudar a não engasgar. Vai buscar o copo de meias voltas, fosco pelo sal, e enche-o com vinho tinto. A noite vai ser calma e longa.

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