Sunday 29 April 2012

Estranho amor,
estranha vida,
estranho algo
que está acontecer.
Estranha a dôr,
estranha azia,
de ter engolido
o que tinha para te dizer.
Bando de palmadores
entram no 28,
atrás do dinheiro dos turistas,
polícias à paisana
vão no encalço
destes carteiristas.
Reparam, mal disfarçam,
na próxima paragem
põem-se na alheta,
apanham-nos no fim da rua,
metem-nos nos carro,
para depois levarem na corneta.

Zé Naifas assalta,
alguém esbaforido grita,
"Agarra que é  ladrão!",
gera-se um corropio,
a judite passa a correr,
tudo isto da janela
do restaurante
aonde estou a comer.
Quatro horas de homília,
por néscios de ecrã,
assim se enche o dia
com cultura vã.

Poema com domicílio/ Questão da noite

Esta apólice, o vizinho de cima,
a puxar o autoclismo,
a bater na mulher e nos filhos.

A água da torneira com cheiro a lexivia,
sempre a pingar,
o televisor com uma avaria.

Talvez o canteiro das flores,
sujas e maltratadas,
estas zangas por tudo e por nada.

Questão da noite
do programa que acontece
em Portugal, neste fim de século,
navegar é preciso ?
resposta:
se morar no Barreiro, sim.

From "A Naifa "

Sedução/Almirante Reis

No extremo oposto à minha janela,
está um homem em biquini de mulher,
de pele com uma côr bizarra,
espanto-me com o que está a acontecer.

Em poses de extrema sedução,
conversa com um parceiro,
a estranheza não deixa de ser atracção
que se mostra numa impostura de deleite.

Deitados sobre esteiras estendidas,
não identifico o palavreiro,
não param de arejar o entre-pernas,
isto irá acabar em algo muito estranho.

É é preciso ter .

Estranho Domingo, estranha rua,
onde o incomum convive diariamente,
motivos de escrita, aqui não falta,
e ainda nos oferecem gratuitamente.



Friday 27 April 2012

Sentimos a falta de Miguel Portas

É inegável e estranha a dôr que Miguel Portas deixa na sociedade. Esta dôr não cobre partidos políticos, ou preferências partidárias. A partida prematura de Miguel Portas deixa uma brecha na democracia portuguesa impossível de se fechar.

Não se tratava de uma pessoa explorada pelas televisões. Poucas pessoas sabem e estão interessadas pelo o que fez. Era apenas uma pessoa de esquerda. Talvez o espírito português que é normalmente esquerdista, manifeste-se involutariamente, e as pessoas se sintam comovidas por isso.

Miguel Portas foi um grande ícone. Apenas nos resta Paulo Portas, que será o próximo ícone da política portuguesa.

A Estrela d'alva acompanhou Miguel Portas até ao último dia.

Estrela d'alva

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

from Zeca Afonso

Exercício

Abriu porta do quarto num movimento rápido e entrou. Encolhi-me de repente, e tapei-me com os lençóis. Não é comum ele chegar a casa a esta hora. Perguntei-lhe o que se passava? Qual a razão de ter chegado tão cedo? Ao mesmo tempo, tentei utilizar o pensamento lógico que me foi dado e mascarei-me com uma cara séria. Mas sabia que estava em apuros.

Estava cansado de tudo. Há dias em que nada corre bem, e tudo é feito com a ajuda da paciência. Vou aproveitar esta oportunidade, e vou mais cedo para casa para descansar. Rapidamente meti-me no metro, entrei no prédio, entrei em casa. Atirei o casaco para sofá, larguei a mala. "Estou farto", pensei. "Vou para o quarto deitar-me e descansar".

No meio desta loucura, finalmente sentia-me um herói por ter chegado aqui. Tudo muda num ápice, quando ouço um barulho e ela empurra-me para debaixo da cama. Não tive tempo de perceber o que se passava. O meu coração acelerou. Todo o sentimento de sucesso esfumou-se e tinha-me tornado numa pessoa igual a qualquer outra que tinha sido apanhado pelo imprevisto. A frase "neste momento estou metido em sarilhos", cresceu de tamanho e apoderou-se de mim. Quando a porta abriu-se o meu cérebro desligou. Um homem entrou no quarto, e entrei em modo de sobrevivência.




Tuesday 17 April 2012

"This is Hardcore
there is no way back for you.
This is Hardcore
this is me on top of you,
I can't believe that it took me this long."

 from Pulp in "This is hardcore"

Saturday 7 April 2012

Sofia Vitória - Que cantora

No dia 5/4/2012 fui assistir ao concerto dado por um quarteto composto por  Sofia Vitória (Voz), Júlio Resende (Piano), João Custódio (Contrabaixo) e Bruno Pedroso (Bateria) no bar OndaJazz. Como o nome do bar indicia, foi um concerto em que tocaram músicas de Jazz, também tocaram algumas músicas brasileiras e Zeca Afonso, sempre com uma cobertura doce de Jazz.

Há muito tempo que queria ouvir Sofia Vitória cantar, e finalmente consegui. Ainda bem que fui vê-la. A voz que detém é dona de uma miríade de cores, versátil e pujante. Trata-se de uma voz pura que facilmente faz qualquer sonhador embarcar num mundo de surpresas agradáveis. Existem alturas, que parece que estão dois ou três cantores a cantarem a mesma canção alternadamente, devido às diferentes maneiras como começa cada secção. Considero-a uma cantora impressionante e merecível de um reconhecimento digno.

Urjo para que a Sofia Vitória tenha mais oportunidades de se apresentar em grandes espectáculos. Tenho pena de não ter a capacidade para promover espectáculos, porque se fosse por minha vontade, existiria muitas oportunidades para podermos vê-la a cantar.

O piano, tocado por Julio Resende, mostrou em certos momentos uma qualidade equivalente à voz da cantora. Eu bem me recordo, como certos solos me fizeram fechar os olhos e suspirar.

No geral, o quarteto apresentado é bastante bom e passei um excelente momento a ouvi-los. Fico à espera do próximo concerto em Lisboa.

Para quem não acredita no que digo, ouçam bem como Sofia Vitória canta a música Beatriz escrita por Chico Buarque.


Circuladô de fulô

"Circuladô de fulô,
ao deus ao demo dará,
que deus te guie
porque eu não posso guiá,
eviva quem já me deu,
circuladô de fulô
e ainda quem falta me dá"

Circuladô de Fulô
de Caetano Veloso


Friday 6 April 2012

Um homem escolhe uma mulher com a mesma pontaria quando urina de pé para a sanita...

Chuvas de Abril

As chuvas de Abril chegaram,
acompanhado do chilrear dos estorninhos,
ao som do carpir dos campos de madressilva,
está na hora de se ir buscar o vinho,
levar o pão para a mesa,
comer bacalhau com batata cozida.

Ir às colmeias buscar o mel,
espalhar as folhas sobre a esteira,
abrir as janelas para entrar a luz,
arear a rotina de mais um ano,
pôr as amêndoas e nota sobre a mesa,
cumprimentar o padre, beijar a cruz.

Coscuvilhamos a vida do relativo,
comparamos com a nossa,
a felicidade que renasce sem motivo,
a esperança vã que volta a brotar,
a alegria de estarmos juntos,
e termos um família para contemplar.

A derradeira batalha

Porque é que eu não posso amar a Ana, a Sofia, a Mariana, a Anabela, a Paula, a Teresa, a Susana, se todas elas são belas. Até a mulher mais feia, não deixa de ser bela. Bela Ana, bela Sofia, bela o resto, bela a peixeira que mostra uma virilidade masculina, bela a jardineira que mostra sentimentos de protecção, bela a vendedora de chás que mostra a preocupação pelos outros, bela a naturista que se identifica com a mãe natureza.

A beleza nasce com a mulher, nasce dentro do ventre da mãe. Ninguém sabe em que ano a beleza nasceu, mas ela procria-se silenciosamente por cada menina que nasce.

Já estou cansado do elogio à beleza por si só, sem qualquer contexto, mas eu preciso vê-la diariamente. Sem ela, eu estava louco, entediado, com tremuras de frio, e ataques de pânico. A beleza é um elemento vital para mim, tal como dormir. O dia em que não reconheça mais a beleza, é como dizer que nunca mais dormi, e lentamente morrerei.

Os supostos intelectuais que cruzam a pernas e contorcem-se nas cadeiras, distinguem a beleza da estética. A mulher não é estética, é cruelmente bela, tal como a natureza.  Quem não tem desejos selvagens de ser envolvido num turbilhão de beleza. Que belas pernas, que belas costas, que bela face, que belo cú, todas estas descrições selvagens vêm dos seres mais selvagens e rudes que existem, e rapidamente poluem a mente agressiva e guerreira do homem.

Nestes tempos modernos, somos Vikings sedentos de mulher, sedentos de beleza. Já não se conquista países. A derradeira batalha é conquistar uma mulher.






À plena voz

De uma voz colorida e solta como uma criança,
salta à corda por entre riscas do arco-íris,
é demasiada força numa só mão,
não estava pronto p'ra ouvir.
Suave, belo e completo.
Não existe mais nada a pedir,
a beleza oferece-se à contemplação,
só tenho pena de não a ter ao pé de mim,
para poder ouvir quando quero em suave abastança.

Monday 2 April 2012

Amanhã

Quando vou falar contigo?
amanhã, amanhã.
Quando me torno teu amigo?
amanhã, amanhã.
Quando vou ouvir a tua voz?
amanhã, amanhã.
Quando de mim nasce um nós?
amanhã, amanhã.
Quando te vou conhecer?
amanhã, amanhã.
Quando te vou ver ao amanhecer?
amanhã, amanhã.
Quando vais dizer que sim?
- Quando o sol acordar.
amanhã, amanhã.
Se me convidasses para sair,
eu diria hoje,
mas o sonho não se realiza,
não sei quando vou sorrir,
talvez amanhã, amanhã.