Monday 15 August 2011

Sophia Mello Breyner Andersen

Na areia extensa,
coberta por uma falésia estrondosa,
na garganta do desconhecido torpe,
a menina esconde-se
por detrás da rocha,
cobre o rosto,
medrosa.

A palavra que se desenrola,
como a onda extensa que se aferra,
na voz benévola que sussura,
acaba no rombo sobre as pedras,
e a menina percebe
que é o mar a chegar
à terra.

Assim como vem,
sem avisar, a onda se vai embora,
a obra perdura nos que ouvem,
mas morre no fundo dos surdos,
quando bate na pedra,
por muito que outra
se acosta.

Menina do mar,
que ninguém pára na tua hora,
mas tens muito tempo para esperar,
e o tempo passou-se,
como passou a onda,
que acabou por fechar
a porta.

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