Monday 15 August 2011

Se tanto me dói que as coisas passem

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

(from Sophia de Mello Breyner Andersen)

Sophia Mello Breyner Andersen

Na areia extensa,
coberta por uma falésia estrondosa,
na garganta do desconhecido torpe,
a menina esconde-se
por detrás da rocha,
cobre o rosto,
medrosa.

A palavra que se desenrola,
como a onda extensa que se aferra,
na voz benévola que sussura,
acaba no rombo sobre as pedras,
e a menina percebe
que é o mar a chegar
à terra.

Assim como vem,
sem avisar, a onda se vai embora,
a obra perdura nos que ouvem,
mas morre no fundo dos surdos,
quando bate na pedra,
por muito que outra
se acosta.

Menina do mar,
que ninguém pára na tua hora,
mas tens muito tempo para esperar,
e o tempo passou-se,
como passou a onda,
que acabou por fechar
a porta.

Sunday 7 August 2011

Flôr num momento da terra

Flôr que nasces invencível,
onde te assumes com esplendor,
os espinhos depois picam-te,
mas continuas uma bela flôr.

Caem-te as pétalas por saudade,
acusas a mão que te puxa,
e esqueces que quiseste ser
sempre a flôr mais astuta.

Afirmas que vives dos sentimentos,
e a certeza vem dos teus pés,
logo cansas-te dos quatro tempos
que te ajudaram a ser como és.

Perguntas se o sofrimento
é o preço para o que queres.
A persistência e a paciência
é que te aguenta de pé.

Depois das pétalas arrancadas,
os olhos largam-te de vez,
desde que estejas na terra,
as pétalas nascem outra vez.

Quando se é bonita,
é-se bonita para a vida,
independentemente do que faças,
minha querida flôr extinta.