Saturday 27 November 2010

Serra de palavras

Estas serras de palavras
que se montam na cabeça
onde a aurora transposta
trespassa sem que nada a impeça.

Monta-se a glória do medo,
porque o pior inimigo sou eu,
levanto a espada em riste,
para cima até ao céu.

À procura da consciencialização,
de algo que virou mania dos deuses
que me afoga numa contradição
que leva os dias e me leva os meses.

Estado contrário de supressão,
estado revolto na noite estéril,
estrela-anã em plena criação
que me fez numa estátua éreo.

Sabor a metal na minha língua,
liberdade que custa a vida,
Califórnia na consciência,
e lá ficar a consumir cocaína.

Cravado por outro metal,
espetado por metal,
consumido por metal,
manchado por résteas de metal.

Quero art-déco em São Francisco,
quero ficar debaixo da ombreira,
sentir os cheiros do dia,
do deserto que enche as veias.

E no final rodeado de cactos,
perdido em pleno Arizona,
Shangri-la e o que me resta,
liberdade deitado à sombra.

Contra a pedra que é a palavra
para que ela se desmanche,
porque a mente age mais depressa
do que as vezes que se pretende.

E de serra após serra,
desmancho a cordilheira,
das pedras que coloco na terra,
não sei o que faça, talvez areia.

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