Saturday 27 November 2010

Serra de palavras

Estas serras de palavras
que se montam na cabeça
onde a aurora transposta
trespassa sem que nada a impeça.

Monta-se a glória do medo,
porque o pior inimigo sou eu,
levanto a espada em riste,
para cima até ao céu.

À procura da consciencialização,
de algo que virou mania dos deuses
que me afoga numa contradição
que leva os dias e me leva os meses.

Estado contrário de supressão,
estado revolto na noite estéril,
estrela-anã em plena criação
que me fez numa estátua éreo.

Sabor a metal na minha língua,
liberdade que custa a vida,
Califórnia na consciência,
e lá ficar a consumir cocaína.

Cravado por outro metal,
espetado por metal,
consumido por metal,
manchado por résteas de metal.

Quero art-déco em São Francisco,
quero ficar debaixo da ombreira,
sentir os cheiros do dia,
do deserto que enche as veias.

E no final rodeado de cactos,
perdido em pleno Arizona,
Shangri-la e o que me resta,
liberdade deitado à sombra.

Contra a pedra que é a palavra
para que ela se desmanche,
porque a mente age mais depressa
do que as vezes que se pretende.

E de serra após serra,
desmancho a cordilheira,
das pedras que coloco na terra,
não sei o que faça, talvez areia.

Sunday 14 November 2010

Acho graça que é normal dizer-se que os políticos são corruptos e ladrões, mas quem ganha as eleições são sempre os mesmos ladrões e corruptos.

Para aqueles que dizem que o país só vai com maioria, eu digo que o país só vai se tiver uma assembleia com pintas roxas. Se não sabem governar-se com o que têm, e se acham que o estado do país é pela crise económica internacional, não ocupem lugares de governo, porque pelo visto não sabem governar o país. Um país tem que ser governado em todas as situações. Eu também sei governar um país com o dinheiro dos outros, quando não tenho que prestar contas e não sou responsabilizado pelos meus actos.

Também quero lembrar a todos os governantes, secretários de estado, etc..., que também são cidadãos portugueses. É que normalmente, quando o político fala numa conferência de imprensa usa muito a frase, "Os portugueses têm que compreender...". Acho que deve ser o efeito narcisístico que ataca os políticos no momento em que têm que falar com os jornalistas.

Também quero dizer a todos os deputados que discursos de "O meu partido bem avisou...", "nós é que nos preocupamos com o país", etc..., são discursos que não ajudam o país a crescer. Independetemente do ponto de vista político, o bem-estar comum de todos os cidadãos portugueses é apartidário.

E no final do mês, que os ordenados dos deputados e governantes seja pago pelo partido e não pelos cidadãos. Cada um dessas pessoas também não me paga o meu ordenado.

Saturday 13 November 2010

Everybody here wants you

Encontro-me nesta cidade gigante,
mas a minha alma não pertence aqui,
campos agrícolas nos limites
da turbulência do dia-a-dia.

No passeio oposto aos meus problemas,
ando desconfiado, olhando de lado,
quero distância das passadeiras,
nem que qualquer carro se ponha à frente,
simplesmente não páro.

Longas linhas de luz em que me perco,
um movimento obrigatório e constante,
uma luta constante para parecer limpo,
mas o rio está cheio de correntes terríveis
onde qualquer um se perde.

Que cidade estranha é esta,
escura e com muitas sombras,
um contacto que não se sabe como acaba,
um toque suficiente para desviar o rumo
que pode terminar em sucesso positivo.

O que julgamos liberdade,
é na realidade uma prisão colorida,
que nos traz bem-estar para o dia,
mas no final a factura é que dita,
o verdadeiro preço merecido.

Thursday 4 November 2010

Heroína

O corpo procura sobreviver ao vício,
mas o corpo precisa do vício para viver,
já ninguém gosta do vicío que tem,
mas nem ele, nem o corpo o consegue perder.

O cinto de segurança soltou-se de repente,
o fundo já não segura o que devia segurar,
só um copo de whisky o consegue manter à tona,
arranha os dedos na mesa porque nada sente.

Julgava-se grande e não temia o perigo,
nada o preenchia e sentia-se omnipresente,
em qualquer lado, por qualquer ângulo,
sentia-se seguro, mas soltaram a serpente.

"Eras a minha heroína, apenas só para mim,
a minha glória que me entendia,
como alguém tão pequeno me ouvia tão bem,
agora é ela que exige de mim."

Agora é um constante bater à porta,
abre-a porque sabe que uma mão dará o que quer,
não o ouve mas o faz acalmar no tempo e agora
o corpo é que decide até quando tem que viver.