Thursday 20 August 2009

O novo herói do século XXI

Boa noite. Bem vindos à "Grande Entrevista". Hoje temos o novo super-herói do século XXI. Ele tem combatido todo o tipo de crime, desde fraudes até ao simples roubo. Ele actua especialmente em Lisboa, mas já houve relatos de que actou na Bobadela, Beja e Porto. Ele aparece da forma mais imprevista, eliminando o caos e salvando as vítimas num instante. Muitas notícias têm aparecido no jornal a tentarem descrevê-lo, mas a sua identidade tem permanecido desconhecida. Hoje, pela primeira vez e talvez única vamos conhecer o novo super-herói do século XXI que tem instaurado a segurança nas ruas de algumas cidades portuguesas. Senhoras e senhores, temos a honra de apresentar o "El Caganés".

J (Jornalista): - Boa-noite.
EC (El Caganés): - Boa-noite.
J: - Estou a ver que tem uma boa pronúncia portuguesa. É português?
EC: - Sou sim.
J: Qual é o seu verdadeiro nome?
EC: O meu nome é "El Caganés".
J: Mas é mesmo o seu nome? Não é um pseudónimo?
EC: Não. O meu paizinho registou-me com esse nome no cartório nacional.
J: Aonde nasceu?
EC: Eu nasci na moita da Costa da Caparica. Está a ver aquelas praias enormes na Costa, com um areal extenso? Eu nasci nas moitas que rodeiam a praia.
J: Mas como nasceu?
EC: O meu pai tinha almoçado uma feijoada à transmontana e estava na praia a jogar à sueca com os amigos. De repente os feijões começaram a ficar atravessados na barriga e deu-lhe uma vontade de cagar. Correu até à moita, pôs-se de cócoras e escondidinho atrás do arbustro, descarregou a mercadoria. Com o calor, aquilo começou a endurecer e foi assim que eu nasci. Agora está-me a vir à cabeça um lembrete em que depois de ter nascido, cheguei ao pé do meu pai e de braços abertos gritei de alegria - "Pai!", ao qual ele respondeu-me - "'Das, que merda de filho." Ele é e sempre será o meu melhor amigo.
J: Então teve uma infância feliz?
EC: Não tive. Tive uma infância muito difícil. Todos os colegas das escolas onde eu andei gozavam comigo. O meu pai bem me mudava de escola com o objectivo de pararem de gozar comigo, mas não havia maneira de terminar com as boquinhas.
J: Mas o que lhe diziam?
EC: Tantas coisas, que já nem me lembro de todas. Diziam-me várias coisas como por exemplo: "Olha o cara de cócó.", ou, "Se eu fosse o teu pai, puxava o autoclismo". Foram momentos muito tristes que eu nem me quero lembrar, pois fiquei com más recordações desse tempo.
J: O que queria fazer na vida?
EC: Eu sempre quis ajudar as pessoas, mas não sabia como. Foi por isso que me tornei no que sou agora.
J: Mas porquê num super-herói?
EC: Um dia estava a ver o telejornal e em todas aquelas notícias, percebi que a maioria das pessoas só fazem merda e procuram escondê-la de todos para aparecerem à frente dos outros de forma limpa. Se repararmos, desde o político, ao banqueiro, ou ao gestor, todos eles fazem merda. Pode ser trafulhices de várias formas, mas não deixa de ser merda. Revoltado com esta situação, resolvi tornar-me num super-herói e pôr todas estas situações a descoberto para instaurar a justiça para os mais necessitados.
J: Daí o seu nome?
EC: É o meu próprio nome, "El Caganês". Se quiser pode considerar-me como o justiceiro duro, o que não adormece em coisas moles.
J: Qual é o seu principal super poder?
EC: É que cheiro mal.
J: Mas como considera isso um super poder?
EC: Imagine o seguinte. Uma raparigas está a ser assaltada num beco por um grupo de ladrões. Eu chego, e imediatamente os ladrões fogem com o cheiro, deixando a bolsa com o dinheiro para trás.
J: E tem mais outros super poderes?
EC: O outro super poder que tenho é que tenho um olfacto muito apurado. Consigo detectar facilmente desvios de dinheiro, falsificações de papéis a quilómetros de distância. Sou como o cão da Maddie. Aquele que cheirou a casa da Praia da Luz, só que melhor ainda.
J: E qual é o seu pior inimigo?
EC: O meu pior inimigo é o Scottex.
J: O Scottex, porquê?
EC: Porque ele tem uma folha dupla e actua em dois lados ao mesmo tempo. Agora já existe em folha tripla, tornando-se ainda mais perigoso. Ele também é super macio e agarra bem. Por isso, se me toca, pode-me esborratar-me contra a parede num instante.
J: É só esse o seu principal inimigo?
EC: Sim, mas o problema é que existem vários tipos de Scottex. Temos o de folha preta, o de folha verde, o de folha dupla e tripla. Também temos o amigo do Scottex. Aquele Labrador com ar de querido. Mas não se engane com a cara dele. Se ele aparece, facilmente enrola-me de Scottex e depois não consigo libertar-me mais. O Scottex preto actua especialmente à noite, quando ninguém o vê, e o Scottex verde normalmente actua nos pinhais e jardins. Às vezes, estou a passear no jardim com a minha namorada e ele está sempre a rondar-me atrás das árvores, pronto para me apanhar. Como vê, tenho que andar sempre atento para não me apanharem desprevenido. Estas ruas estão cada vez mais perigosas.
Já estou a ouvir alguém a correr. Deve ser aquele cão com a folha na boca. Tenho que me ir embora. Tenho que ir resolver mais crimes. Adeus.

Assim o super-herói desaparece do cenário num instante.

J: Senhores e senhoras, esta foi a possível entrevista com o super-herói. Sempre com o tempo bastante preenchido, ele não tem tempo para descansar para que as cidades vivam em segurança.

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