Wednesday 3 June 2009

O problema do contador de histórias

Existe uma pessoa que adora escrever e contar histórias. Esse escritor passa dias sentado agarrado à maquina de escrever, e sempre num ambiente com pouca luz e humido, o som das teclas irrompe. Clac, clac, tlim...

À medida que ele escreve, o seu corpo muda. Por estar sentado bastante tempo, as mão e os pés ganham raízes. Estes acrescentos imiscuem-se na mesa e no chão de madeira. De repente, torna-se parte fixa da casa.

A cabeça dele incha e transforma-se numa copa frondosa. Os pássaros descobrem um novo lugar para estar e decidem poisar nos ramos. Imediatamente começa a nascer mais passarinhos. O que resta de um escritor solitário agora pertence à natureza.

Nos momentos em que não está a escrever, gosta de contar histórias. Para tentar ultrapassar o facto de estar sózinho, vai ao parque e pergunta ás pessoas se lhes pode contar uma história. Há dias que ele tem sorte, e uma mãe ou pai acede que ele conte a história aos filhos, outras vezes apenas lhe resta ficar sentado no banco a imaginar que está a contar a história dele para alguém.

De tanto contar histórias no mesmo parque, ganhou a alcunha do contador de histórias. Mas o contador de histórias tem um problema. Esse problema está na razão de ter-se tornado escritor.

Desde criança que sempre achou que conseguia criar um mundo diferente e bem mais interessante do que vivia. Sempre achou que o mundo não estava à sua altura. Esta atitude de arrogância e de decepção levou-o a escrever histórias, sempre com o objectivo de provar a alguém que consegue mostrar a todos os leitores que existe um mundo muito mais bonito e interessante para se estar e que todos deviam ter em consideração as suas crenças para viver melhor. Ele sabia que estas ideias deviam ser passadas de forma subtil e achou que a forma correcta de fazê-la era através das histórias.

De tanto criar os seus mundos e gostar de contá-los, esqueceu-se que acabou por erguer paredes. Por muita imaginação que tinha, cada vez que contava a sua história estava a descrever a sua personalidade. Sem se aperceber, as suas histórias foram ficando mais isoladas e distantes e já ninguém as compreendia. A sua boa intenção que levou-o a escrever, tinha-se tornado numa prisão, onde as paredes iam-se apertando por cada dia passado e iam-o sufocando cada vez mais.

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