Tuesday 5 May 2009

Reflexão sobre o "Into the Wild"

Branco, estou completamente em branco.

Uma vezes assisto a cenas que nos tocam completamente, outras vezes damo-nos perante brancas. Neste momento estou a rever o livro "Into the Wild" de Jon Krakauer, e existem situações descritas no livro que me toca particularmente.

Para fazer um breve apanhado do livro para quem não leu, ou não viu o filme, o livro "Into the Wild" é um registo feito pelo jornalista Jon Krakauer sobre a história de Chris McCandless, que abandonou um futuro promissor e a sua família para viver o sonho de viver em comunhão com a natureza. Dito desta forma simples, parece ser uma história apenas louvável, mas os vários documentos que Jon recolheu e as várias entrevistas que fez às pessoas que se cruzaram com Chris, mostra que por onde Chris passasse, deixava uma marca indelével nos corações de todos. A viagem de Chris acabou quando ele morreu à fome no Alaska.

Das várias pessoas que Chris cruzou, eu dou especial atenção a uma pessoa com o pseudónimo de Ron Franz e ao seu acto de esperança de tentar superar uma vida injusta ao perder a sua mulher e o seu filho num atropelamento, quando pede a Chris McCandless (protagonista da história) para ser seu herdeiro, visto Ron ser a última pessoa viva da sua família. Chris desvia a atenção sobre o assunto, indicando-lhe que falava com ele num próximo encontro. Ron Franz sentiu duramente a rejeição, de uma forma que poucas pessoas hão-de sentir, e isso traz-me raiva.

Ron continuou com fé que seria possível Chris tornar-se seu neto adoptivo, visto ele ser o único ponto de amor que tinha sentido para além da sua família. 6 meses depois, Chris telefonou-lhe perguntando se podia ir buscar-lhe. Ron, pensando que ele encontrava-se totalmente numa cidade oposta à sua terra, automaticamente perguntou-lhe em que local se encontrava em Seattle. Naquele momento os olhos deles voltaram a brilhar. Embora Chris estivesse ao pé dele, da mesma forma ele apareceu diante Ron, ele desapareceu.

É nesta altura que se pergunta como o egoísmo, ou o prazer de alguém pode-se sobrepôr ao amor de outra pessoa.

Apesar de Chris ter voltado à sua aventura selvagem uma semana depois de ter-se encontrado novamente com Ron, ele rezou sempre para que Chris voltasse a estar com ele. Mas quando Ron descobriu que Chris tinha morrido por via de terceiros, toda a esperança e fé que tinha em Deus desapareceu num instante. A partir desse dia, Ron deixou de acreditar em Deus, porque jamais compreenderá como Ele pode ter deixado uma pessoa tão boa morrer tão jovem.

É inegável a pureza de Chris, mas tanta imensidão de sonhos tornou-o egoísta e indiferente a quem o rodeava. Ele morreu por ter-se isolado das pessoas devido a tanto egoísmo.

Muitas vezes pergunto se as pessoas não têm amor ou coração. Qual o objectivo de se armarem em duras, se elas existem graças ao coração dos pais terem-se encontrado. Não entendo mesmo. Talvez seja pela dificuldade de conseguirmos olhar ao espelho e ver o nosso reflexo, talvez seja por pensar que apenas se nasce por amor.

Chris McCandless tinha um sonho que queria atingir sózinho, um sonho que era viver com o minimo possível, atingir os ideais de Jack London e de Henry David Thoreau. Ele fez tudo para afastar todas distracções possíveis que pudessem desviá-lo do caminho. Há quem louve a coragem que ele teve, mas para mim, como ser feito de relações que somos, acho uma estupidez. Há certos ideias que apenas ficam bem no papel. É muito difícil pô-los em prática, porque vão contra a natureza humana.

Eu sou uma pessoa citadina que habituou-se sempre a viver com os pensamentos, com poucos amigos, e no entanto há uma coisa que detesto bastante e que se chama solidão. Para mim é muito difícil de ultrapassar a solidão. A solidão há-de estar sempre agarrado a nós. Há-de existir sempre momentos em que nos sentimos sós. Eu considero que as pessoas da cidade têm mais períodos de solidão que as pessoas que vivem em pequenas comunidades. Passar o Natal, ou o fim-de-ano, ou o aniversário ou jantar regularmente sózinho são momentos terriveis que afecta qualquer um. Estar isolado numa noite onde o céu nos envolve e a ver as outras pessoas a fazerem a sua vida e nós ali parados é bastante consternador. É por isso que não compreendo porque as pessoas não sorriem umas ás outras. Não estou à espera que passemos a vida a andar com um sorriso forçado na cara, mas estou à espera que as pessoas não tenham medo em falar. Por vezes, perdemos o nosso tempo a dar atenção a coisas que não acrescentam nada a nós, e esquecemos de ir atrás do que realmente nos é importante.

Eu não compreendo Chris e porque razão ele fechou-se do mundo exterior e do amor para ir na busca de um sonho estético e idealístico que no final acabou por levar-lhe a vida. Tudo no silêncio. Por muita revolta que ele tinha pelo pai, acho que Chris tornou-se num caso típico de um jovem que se pergunta o que quer para vida quando está preste a entrar numa universidade. Chris tentou encontrar o amor fora do círculo familiar, sózinho, em comunhão com Deus e a natureza, tudo porque tinha um feitio igual ao pai.

No limite, estamos todos à procura do amor. Quem não está à procura é louco.

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