Sunday 10 May 2009

O escritor

Desde os primeiros dias, Hugo Montevidello, nascido em Milão, rapidamente ganhou os costumes portuguese, quando o pai, trabalhando na embaixada de Itália fazendo parte do departamento de comércio italiano, foi assignado a fazer um estudo sobre as taxas de exportação de produtos italianos para a Península Ibérica. O que se tornou num trabalho temporário, o somatório dos dias que passaram, mais a atracção pelas manhãs lisboetas avultadas com o chilrear dos pássaros, rapidamente acabou por se tornar numa estadia permanente.

O pai de Hugo, Giovanni, também se apaixonou pelos fados portugueses. Adorava passar uma semana a saltar entre a Mouraria, Bairro Alto, Madragoa e Alfama, para ouvir desde o fado falado até ao fado corrido. Ele adorava ouvir os vários tipos de fado, porque era sinal que, embora os três bairros estejam quase todos ligados entre si, a experiência e o sentimento que saía da boca dos populares ao cantar o fado, mostrava experiências únicas e dostintas entre si. Giovanni perguntava-se a si próprio como seria o fado nas fronteiras destes bairros? Seria uma mescla do estilo do fado da Mouraria com Alfama, ou do fado de Alfama com o do Bairro Alto? Levado pelo impulso da curiosidade, foi à procura de casas de fado na fronteira entre os bairros, mas rapidamente a dúvida esmoreceu, porque não encontrou nenhum restaurante que mostrasse a mescla de estilos.

Hugo nasceu com a parte sonhadora do pai e desde pequeno habituou-se a fazer o seu mundo e a viver nele. Desde a infância que começou a sonhar e a desenhar um mundo perfeito de acordo com as suas capacidades. Rapidamente habituou-se a descrever tudo o que via, tanto fora como dentro da sua cabeça. De forma correcta ou incorrecta, começou a ganhar noção do que gosta e detesta. A primeira vez que abriu um livro, um livro de fantasia por sinal, avistou pela primeira vez um mundo novo, mais bonito que a realidade e tão diferente do que sempre sonhara, mas adorou. Adorou tanto que rapidamente habituou-se a ler livros. À medida que lia mais livros, foi encontrando mundos que adorava, mundos que detestava, coisas que lhe causava angústia, revolta, alegria e tristeza. As palavras rapidamente formavam-se em ideias na cabeça e deixava-se envolver pela frases e ser levado até ao limite da imaginação do escritor. O lado sonhador de Hugo, com o passar de tempo pode ter mudado de máscara, mas na sua essência, esta principal característica que define a sua personalidade continua bem viva. É a imaginação que formou Hugo e que lhe faz brilhar os olhos.

No entanto, Hugo nunca teve muito jeito para escrever. A proporção de ideias com a capacidade de descrevê-las e mostrar às outras pessoas era abismal. Hugo podia ter nascido com um corpo simétrico, mas o seu mundo interior é totalmente desproporcional e assimétrico. Esta característica entristeceu-lhe rapidamente. O sonho que teve em ser escritor desde que virou a primeira página do seu primeiro livro, rapidamente foi bloqueado por uma parede enorme e intransponível. Ele procura ignorar esta ideia durante toda a adolescência, mas no momento de tomar uma decisão sobre a carreira de escolher, tinha que tomar uma posição definitiva. Ele já tinha escrito muitas histórias e enviado a muitas editoras, mas apenas obteve uma resposta bastante dura. A desproporção que sentia dentro de si, tornou-se num vazio, na outra parte da dualidade interior humana que devia estar presente para completar-lhe.

Como qualquer pessoa que procura escolher o que aparenta ser o caminho mais seguro a seguir, Hugo racionalizou demais a melhor carreira a seguir. Estas reflexões fizeram-o temer o mundo das artes por ser tão inconstante e revolto, e por estar sempre agarrado ao fantasma da exclusão social. Hugo esqueceu-se que o mundo das artes só aceita pessoas destemidas e com um coração de virado para a descoberta, porque o segredo está em levar as pessoas para uma varanda donde se possa ter um vislumbre do mundo do criador. Ele não reparou que não tinha construído a varanda para as pessoas entrarem. Não era uma varanda feia, era mesmo uma não varanda, nada. Ele apenas tinha-se preocupado em fantasiar o seu mundo à sua maneira e não se preparou para angariar o público que ele sempre desejou ter. Por isso, ele decidiu seguir advocacia a conselho do pai. Era a melhor profissão que ele podia tirar vindo da área das letras.

Mas Hugo continuou sempre a admirar os escritores. Sempre perguntou como é possível um escritor aguentar uma ideia tanto tempo na cabeça, visto um livro demorar anos a ser escrito? Como é possível com a variância de humores, um escritor ser sempre coerente durante um largo espaço de tempo? Para ele, ser escritor é um ofício que tem grande estima, mas que rapidamente percebe que não tem muito jeito. No entanto, não desiste de escrever e ao mesmo tempo de continuar a tentar exercer a profissão de advocacia. Temido pelas questão do tempo em demorar escrever uma história, passou sempre a escrever pequenos contos que demoram cerca de um dia a ser postos em papel. Escrever um livro de grandes dimensões é para uma tarefa tão árdua e difícil, tal como do nada lhe obrigassem a aterrar um avião comercial.

(....)


Durante toda a vida, e farto de nunca ter cumprido uma tarefa até ao fim da forma correcta, decide começar a escrever um romance. Das várias experiências, desilusões e desamores, começa com muita coragem a desenhar um ambiente feminino onde num vilarejo, as mulheres organizam-se para combaterem o mundo masculino com que o governo do país tinha-se tornado. Elas começam a aperceber que o mundo não está de acordo com o que elas ambicionam, e como tal formam um grupo de revoltosos, que vai crescendo à medida que a ideia se vai propagando pelas aldeias vizinhas, cidades, até que o grupo ganha uma dimensão considerável. Desta forma, preparam uma revolução onde querem procurar tomar o parlamento do país. A história foi crescendo, as horas também, mas mais uma vez, toda a situação idealizada é resumida em dez páginas, o que é insuficente para se tornar num livro. Mais uma vez, o que lhe parecia ser uma história que prometia bastantes páginas, não conseguiu desenvolvê-la e mantê-la interessante por muito tempo. Ele pensou para si próprio: "- Nunca vi uma tarefa tão difícil. Raios, não consigo desenvolver nada de jeito."

O Hugo desde pequeno também sonhava em viver numa casa grande de estilo barroco, onde se encontrava rodeado por uma paisagem extensa de flores e relvado, onde os móveis também de estilo barroco ornamentavam as divisões, quadros enormes encontravam-se pendurados nas extensas e altas paredes. Todo os quadros davam uma pequena lição de história da humanidade, pois cada um representava um acontecimento importante da história humana. No meio da sala estar estaria uma piano de cauda onde poderia tocar as músicas de Bach que sempre gostou de ouvir.

Seria neste mundo idílico que ele procurarava escrever o seu primeiro grande livro. Mas ele precisava de personagens, doutras histórias, doutras vivências de algo que alimentasse a sua imaginação e que deflagrasse uma explosão de palavras que seriam postas em papel.

Mais uma vez, não consegue nada.

O sonho de viver nas mansões veio dos pequenos passeios que dava pelos jardins das embaixadas durante a hora de almoço do pai. Daquele lugar conseguia avistar ruas cheias de pessoas, colinas das cidades, pássaros, muitos pássaros, um extenso céu azul, um mundo frenético que ele gostava de beber para satisfazer a sua imaginação. Automaticamente ele idealizava todo aquele cenário porque lhe fazia feliz.

Ele sonhava ter o seu próprio público, um conjunto de pessoas que o admiravam e reconheciam o seu esforço, mas o grande público que sonhava, rapidamente transformou-se em apenas alguém que o admirasse, mas ele não encontrava ninguém. Ele tentava escrever, construir histórias, mas todas elas acabavam por morrerem no chão, sózinhas e levadas pelo vento. O que ele apenas fazia era escrever histórias que acabavam por gritar no silêncio.

Conheceu apenas uma mulher chamada Inês, ele tentou se aproximar, escrever poemas de amor, mas os olhos e os ouvidos da outra parte não estavam virados para ele. A resposta bonita que adorava de ter ouvido foi rapidamente transformada em palavras de repulsa e ódio.

Ele bem tentava encontrar palavras que lhe abrissem um caminho até ao coração dela, mas não existia nenhuma palavra no dicionário que lhe tocasse. Havia uns dias que parecia que tinha conseguido andar um metro, mas no dia a seguir um olhar feroz e repugnante automaticamente procurava afastá-lo. Ele tentou compreender aquela mulher, mas nunca conseguiu e com o passar do tempo a tristeza e a impotência foi-lhe conquistando e rapidamente foram-lhe cortado as asas.

Para ele Inês não era uma pessoa comum. Era alguém que o fazia tremer e incomodava-lhe ao vê-la. Era alguém que ele sempre sonhara e o que mais queria era estar ao pé dela.

O que ele mais temia era perder a imaginação, e aquela mulher foi a pessoa responsável por matar-lhe. Hugo has been stabbed in heart, in a way so deeply that his heart will never heal. Even if the wound closes, he will always feel the rapture in him, and it will always hurt and he can't do anything about it.

Most people doesn't understand what other persons are feeling. The most innocent words spoken by someone, can be the most sharped dagger that rip someone's body in the most savage way that can't ever be cured.

(...)

Hugo always loved to see documentaries. Especially the ones that talks about people life or an important history event. For his, the documentaries are made of melodic spoken words, that peoples talk about. When he hear someone talk about sadness, a music made of choral chants raised in his ears. A picture of a black and white stream circumventing along pebbles in a dense wood, where little birds flying by was something that marked him deeply. The purity of the nature, the stillness of a second that perpetuates forever it's a sign that live can sometimes be anything that we want, except for the ones that are worried for being blind.

This scene lifted his spirit and he raised his head, inhale deeply and found another reason for keeping fight to write a decent book.

Chatting with a group of travelers that he found in a train terminal in Lisbon, Santa Apolonia. The group made of two girls and a boy, a couple and friend, with the backpacks on their back, were looking at a map. They saw Hugo with the stiffened face looking to nowhere and went to him asking for advices to go to Belem.

Belem is a place that always touched him deeply. He doesn't know why, but sometimes he tried to explain that it was because of the light that reflected on the water, the air that waved through the big spaces, the beautifulness of the Manuelino style of the monastery and the tower. In the days of bad humor he wanders along the sidewalk next to the river, and at the end of the walk, he always find a positive reason. Hugo is a positive character, always trying to find a good reason to live each day, thanking god for keeping him alive, for finding good reasons to amend his notion of time and comprehend how short live is, to circumvent and solve all the problems. To sum up, to keep him always smiling event in the most hard times.

But returning to the travelers group, touched by curiosity, Hugo asked what were they doing here. Word after word, that talked that they returned from Santiago de Compostela and they have the intention of visiting some cities in Portugal, like Lisbon, Coimbra, Tomar, searching for places where the medieval times touched and left some marks. They bought a copy of a book called "Codex Calixtinus" in Belgium. Hugo touched by curiosity asked them what it's this book. A traveler, reaching is hand to the bag, opens the zip and takes a small book. In a brown hard cover and written in gold words, that book depicts proudly its title. A traveler add the that this book is a recent copy that he bought in a used book store, and the the original dated from the 12th century is in Santiago, and the first copy made by monks are in a public library at Antwerp. With a small size, this book is the first traveler ever and the first book that shows the first route to Santiago, starting in the north of Europe. Beside describing the city, it shows which monuments and relics should been venerated through the course.

Intrigued by this book, Hugo picks immediately the book and starts to skimming the book. The curiosity and excitement of looking to the book made him to start to find also a copy to buy.

Now that the group is in Peninsula Iberica, it was a big mistake to return to home without visiting a country like Portugal, who have a great importante from the 10th to the 15th century.

(...)

"The morality that the politics utter, my will to be socially adapted is killing my mind. I have the will to become dumb, to have a blur mind, because my ignorance and the guarantee to be my self and find my own path is the secret to keep running my imagination. Without her, I just can't finish a story. I'll always become an anonymous person who just saw life passing by." - Hugo suddenly have a little clairvoyance mixed with an angry. Those days that become years of striving to find a history were really touching his nerves. He's becoming exhausted because of the stack of failures that is life is draw. He wanted more. He wanted happiness, a completely fulfillment of his entire human being.

Sometimes we look to people that have an destiny marked by some situation. For example, the prisoners that spent all their life inside a cell, won't never know what life his. It's difficult to understand how their lifes are. The many days that they prefer to die, because they're deprived of being with their families, of seeing the sun rise and fall in their neighborhood, of talking to their neighbors, of cooking, of strolling in the parks and play with their children. They're deprived of living.

Hugo destiny is full of misunderstood moments that beat him down regularly. He knows that has the ideas but can get success, admiration and recognition that he always desire for. For him, being applauded by others it's a true confirmation that he's doing the right thing to the world and everybody understands. He knows the story of some important persons like Shakespeare, who normally are only recognized after death. This stupid mockery of falsely recognizing some after death, really annoys Hugo. He always think how ridiculous is to see some important hot shot trying to give a moralizing speech about someone. "This Einstein has contributing very much for our world, bla, bla, bla..." - says the politician. "If someone just go there and asked what is the relativity theory and how's important to the world, everybody would noticed that the words he pronounce are shallow and empty." - thinks Hugo. "Why don't you leave these words to someone who really knows what he's saying. Why all these politics like to be the head of attention. They're stupid and their bellies are puffed with ignorance and faulty words".

(...)

Já no final da sua vida, Hugo foi internado num hospício por ter sido diagnosticado esquizofrenia e por isso o médico ordenou que ele ficasse fechado num quarto só para si, e deveria ser lidado com muita atenção, pois podia representar um perigo os enfermeiros. Ele bem pediu ao médico para lhe arranjar um lar de terceira idade onde pudesse passar as tardes num jardim, mas devido à gravidade da sua condição, o melhor seria ser internado num hospital.

Ele teve um passado triste. Sem mulher, sem filhos, ele era o fim de linha da sua geração. Ele recorda com muita tristeza o grande amor que nunca aconteceu que teve por volta dos seus 20 anos. Como ele sonhava e planeava uma vida com aquela mulher, Inês de nome, mas a rejeição constante que foi sujeito foi degastante para ele. Durante a sua tentativa de conseguir aproximar-se dela, ouviu muitas palavras duras que as boas pessoas nunca devem ouvir. Ele sentiu-se injustiçado e incompreendido por todos os que rodeiam, porque jamais conseguiam ver aquilo que ele via. Um cenário bonito, inspirador e carinhoso. Parecia que todos estavam mais preocupados com o seu umbigo e viverem em mundos cheios de problemas e esperanças vãs, do que conhecerem o seu mundo.

Quando entrou pela porta do hospital pela primeira vez, Hugo sentiu de uma forma intensa o medo e o frio que as paredes transmitiam-lhe. Ele foi levado até a um quarto de pequenas dimensões, mais concretamente de 3 metros de comprimento por 2 de largura, onde no topo encontrava-se uma pequena janela com grades, donde apenas numa posição especial, em certos dias, conseguia-se ver um quadrado de 15 centímetros por 15 centimetros de céu azul. Era neste quarto que ele passaria a dormir. Sózinho, sobre um colchão de 5 centímetros de altura, ele deitava-se de corpo virado para o tecto, e começava a sonhar e a imaginar mais histórias. Os seus olhos paralizavam-se e começava a sorrir por bem lá no fundo, ele visualizava-se num campo enorme de mãos dadas com Inês, sentados a conversarem e a apreciarem o vento, o céu azul e o sol que se mostrava só para eles. Embora nunca mais a tenha visto, ele imaginava-a da sua idade, com o corpo levado pela felicidade em ter estado com ele, mesmo que seja apenas em sonho, mas fazia-o bastante feliz. Embora nunca tenho pegado nas mãos de Inês ele continuava a imaginá-las suave, com um toque único que apenas era possível de ser sentido e não descrito. Os seus olhos continuavam doces e mostrava um sorriso próprio de quem esteve sempre feliz.

Ao ser internado, o único pedido que fez ao médico foi para que lhe dessem papel, um lápis e livros, porque já que o querem excluir do mundo, que nunca lhe tirem a imaginação. Ele queria continuar sempre vivo, mesmo sendo incompreendido por todos. Ele continua e continuará sempre acreditar no que a sua cabeça produz, pois são sempre histórias bonitas e todos precisam de sonhar.

Ele pode ter levado uma vida inteira a tentar escrever o seu primeiro livro, mas no final apenas restam histórias soltas e desconexas, mas era o seu livro. Era este livro que representava a sua vida que também fora bastante desconexa e incompreensível.

Ele bem tentou ligar as várias histórias para ter um desfecho feliz e coerente, porque sabia que a idade já o tinha traído há muito tempo e estava a chegar ao fim. Ele lutou bastante para encontrar um desfecho, e agarrado ao lápis até ao último minuto tentou imaginar, numa fúria de pensar até ao último minuto, já bastante cansado, o coração pára e a sua alma desprende-se do seu corpo e fica uma história por terminar.

Tal como foi característico na sua vida, ele nunca compreendeu como nunca tinha conseguido terminar de forma bastante digna tudo o que começava. Tudo o que fazia ficava sempre em aberto, ou com um fim atrapalhado e um bocado confuso. Tal como a sua vida, nunca acabou o seu livro.

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