Wednesday 29 April 2009

Os músicos de rua

Cada vez mais respeito os músicos que tocam nas ruas com a verdadeira alma de músico. Eles são um sinal de como esquecemos de sorrir e andamos distraidos a ouvir palavras ditas e não palavras cantadas. O ser humano tem a tendência em não levar a sério as pessoas que cantam ou que passam a vida a brincar. Preferem acreditar em pessoas com cara séria e vestidas num fato. Cada um escolhe o caminho que quer, mas acho que devemos escolher as pessoas pelo que elas são realmente e não pelo que elas procuram simular.

Os cantores de rua são das poucas classes de pessoas que têm uma razão para sorrir todo o dia e terem um espírito leve ao espalharem a alegria para quem os ouve. Trata-se de um ofício muito bonito, apesar da vida difícil que de certeza têm.

A todos que adoram a música e que se sacrificam por ela, têm o meu grande respeito.

Cantos nuevos - Federico Garcia Lorca

Dice la tarde: "¡Tengo sed de sombra!"
Dice la luna: "¡Yo, sed de luceros!"
La fuente cristalina pide labios
y suspira el viento.

Yo tengo sed de aromas y de risas,
sed de cantares nuevos
sin lunas y sin lirios,
y sin amores muertos.

Un cantar de mañana que estremezca
a los remansos quietos
del porvenir. Y llene de esperanza
sus ondas y sus cienos.

Un cantar luminoso y reposado
pleno de pensamiento,
virginal de tristeza y de angustias
y virginal de ensueños.

Cantar sin carne lírica que llene
de risas el silencio
(una bandada de palomas ciegas
lanzadas al misterio).

Cantar que vaya al alma de las cosas
y al alma de los vientos
y que descanse al fin en la alegría
del corazón eterno.

Cães perigosos ou donos perigosos

Ás vezes pergunto-me se existem cães perigosos, ou donos perigosos. Acho que deviam também pôr chip nos donos e fazerem check-up anuais.

Lá estou eu a pensar demais...

- Ó meu Deus, estou a ser atacado pelo meu Rottweiler. Esta baba de cão é extremamente peganhenta.

Comentário sobre a actualidade

Nesta sociedade cada vez menos informada, está-se a procurar em instaurar um sentimento de pânico em todas as pessoas. Não pensemos que o número de jornais existentes é proporcional à exactidão e verdade com que estamos informados. Não me interessa ter mil jornais, se jamais eles cumprem com os seus princípios - informar com isenção.

O cenário social actual, jornalístico ou político, gera uma ideia que até os loucos têm dificuldade em entender. No que diz respeito aos jornais, as notícias estão construídas de forma que se procura apenas lançar o pânico sobre as pessoas. Os novos profetas da desgraça, ou os novos professores Karamba, como queiram chamar, não conseguem informar as pessoas com isenção, e consideram que ser inteligente é quando se consegue opinar sobre qualquer assunto. Basta apenas ouvir os comentários sobre o estado actual da economia. Ninguém sabe dar soluções, mas todos sabem comentar o passado e traçar um futuro miserável sem fim. Os jornalistas que optam por criar um discurso desta forma, ou conjunto de palavras que muitas delas não fazem sentido se reflectirmos um bocado, não estão a cumprir com a ética jornalística que assumiram ao graduarem-se e estão a ser cidadãos intragáveis porque estes comentários são sinal de gozo perante os concidadãos. Qual é o propósito de ter alguém que é considerado analista económico pelo jornal, se no fundo atribui as culpas a terceiros e saca do bolso uma solução sobre algo que jamais será posto em prática. Os trabalhadores que chegam a casa após um dia cansativo de trabalho e têm bastantes despesas, têm razão para se sentirem cada vez mais desmotivados ao ouvirem notícias com este tipo de conteúdo e com este tipo de jornalistas.

Outro exemplo, sobre o recente caso da gripe suína (Atchim! Acho que já me constipei), até à data li que a gripe suína é uma mistura da gripe de humana, aviária e suína. Apesar desta promiscuidade com que o mundo viral se rege, é lamentável que um dia se fale da gripe e no outro dia já não se ouça mais sobre o assunto. Como todos nós sabemos, hoje o vírus existe, amanhá desaparece! Os jornalistas só aparecem quando existe uma oportunidade para lançar pânico. Mais uma vez vai começar a aparecer imagens de imensos cadáveres suínos a serem enterrados numa vala comum, as pessoas que andam preocupadas porque podem morrer por uma mão invisível, e no dia a seguir deixa-se de falar sobre a gripe suína porque o Luis Figo torceu o nariz quando caiu ao sair do Ferrari. Eu não estou a diminuir o assunto sobre a pandemia da febre suína, porque eu não sou virologista ou médico, mas quando aparecem notícias com o seguinte título - "Portugal já está na lista de países com casos suspeitos da doença." - apenas faz-me pensar que este país até consegue acompanhar os outros países em alguma coisa. Portugal é mesmo um país fixe.

Acho que a maneira de fazer e apresentar as notícias é lamentável e a única forma de protesto que vejo é desligar a televisão, não comprar jornais e procurar gastar o meu tempo em coisas mais interessantes. De vez em quando apenas espreito os títulos dos jornais. Mas em caso de dúvida, vou pôr uma manta sobre as costas dos meus porcos para não constiparem-se e guardo uma caixa de "Antigripine" se fôr preciso. Também gostava de ter uma daquelas máscaras para tapar a boca e o nariz, faz-me parecer um médico. Não me venham acusar que eu faço parte do grupo que já se desligou da sociedade. Se faço isso, por alguma razão o é - manter a minha sanidade mental.

Se por acaso tornar-me num bife de porco a ser comido por alguém, também não faz mal. Apenas vínculo a minha posição como membro da sociedade anónima que anda a pedir a Deus por uma salvação divina inexistente. Digamos que nunca gostei muito de circo, mas se quiser assistir a um espectáculo, vou comprar um bilhete. É por isso que eles existem.

Eu lembro quando era menor, a minha mãe proibia-me ver os filmes que começavam ás 23 horas, porque eram para maiores de 18 anos e continham cenas chocantes. Hoje em dia, os telejornais tornaram-se os filmes para maiores de 18 anos e dão a toda a hora.

Desta forma é que se preenche a vida quotidiana das pessoas, com inutilidades.

Enganos

São pontos de interrogação,
que se geram à tua volta,
do silêncio de quem olha,
na ânsia por uma lógica.

São só ideias falsas,
porque na realidade,
ninguém está interessado
p'la verdadeira história.

Preferem viver de enganos,
por uma razão de prazer,
sentem-se enfeitiçados,
chocolate-veneno estão a comer.

Monday 27 April 2009

The other woman - Nina Simone

The other woman finds time to manicure her nails,
The other woman is perfect when her rival fails,
And she's never seen with pin curls in her hair.

The other woman enchants her clothes with french perfume,
The other woman keeps fresh cut flowers in each room,
There are never toys that scattered everywhere.

And when her baby comes to call,
He'll find her waiting like a lonesome queen,
'Cause when she's by his side,
It's such a change from her old routine.

But...

The other woman will always cry herself to sleep,
The other woman will never have his love to keep,
And as the years go by...
The other woman will spend her real life alone.

Pária

Pária,
tornaste-te num ser sem honra,
és expulso da pátria,
porque neste lugar, já não moras.

Não te rendeste
ás regras invisiveis por mim criadas,
perguntas demais,
mais do que eu estou habituado.

Nesta terra,
calas-te para eu viver,
para eu dizer como o dia brilhará,
sou eu que digo o que deves fazer.

E o que fazes?,
tudo para me engradecer,
tudo para me exaltar, percebes?!,
porque sou eu que crio o poder.

E quem morreu por uma causa,
a causa que eu ditei,
ganha o meu reconhecimento,
por lutar pelos valores que eu criei.

És-me indiferente,
não honras a pátria,
castigo-te com silêncio,
tornaste-te num pária.

Saturday 25 April 2009

Lembrança

Até me lembro,
agarrado à maquina de escrever,
recitei um poema,
o poema de não te ter.

Declamei,
Palavras no silêncio,
Num espaço vazio,
rodeado de inúmeros sentimentos.

Fazes-me falta,
não te sintas culpada,
fazes-me imensa falta,
não posso fazer mais nada.

Tudo a uma palavra de distância.

O ressalto

Este Natal foi o primeiro que passei sem ti,
à minha frente está uma cadeira de ausência,
comida fria, mesa limpa do silêncio que existe,
eu sou a pessoa que mais sente falta da tua presença.

Estás a ver esta cicatriz agarrada ao meu rosto,
são das pedras que me atiraste sem pudor,
mas esqueceste que elas irão ressaltar,
e que irão retornar ao sítio da origem da dor.

Agora a minha vida mudou, virei a página,
ao longo deste passeio dobrei a primeira esquina,
são linhas conturbadas pintadas nesta estrada,
só espero mais duas, e a última é definitiva.

Saturday 18 April 2009

Convento de Mafra

As 8 horas da manhã chegaram a Mafra através do som do carrilhão do convento. O carrilhonista inicia o prelúdio. Os 92 sinos começam a ganhar vida, enchendo a cidade com 200 toneladas de som celeste. Os pássaros, acordados à horas, saltam da copa das árvores para o chão e o contrário, na busca das migalhas que ainda ninguém debicou. Do lugar onde me sento admiro a natureza e os habitantes a iniciarem o dia. Os empregados do café encheram as montras de bolos tradicionais à espera de clientes. O jornaleiro encontra-se apetrechado com as notícias do dia. A única previsão que consigo fazer é a quantidade de pessoas que irão apaziguar a fome nos cafés e comprarem o jornal antes de irem para a praia ou para a igreja.

Decidi vir a Mafra apenas para contemplar o repicar dos sinos, mas é inevitável reconhecer a importância do convento na cidade. Quase três séculos percorreram a estrada do tempo até à actualidade, mas a sua imponência continuará presente durante muitos mais anos.

Quanto ao som emitido pelos sinos, apenas posso dizer que se trata de um som que preenche rapidamente o ar que nos envolve. Nota a nota constrói-se um momento único que rapidamente permanecerá em nós pelo eco. Aconselho todos a assistirem a um espectáculo desta natureza.

Gostava de poder um dia subir à torre do convento e contemplar os sinos e dali avistar toda a cidade, para posteriormente ir visitar o lugar onde o carrilhonista toca. Imagino o carrilhonista a tocar num lugar exíguo, fechado, na base da torre, totalmente diferente da amplitude e da beleza que me rodeia neste momento. Num esforço constante, ele dará pancadas secas no teclado para fazer os martelos mexerem-se.

Seja em que posição aonde eu esteja, no final trata-se de uma forma diferente de se iniciar o dia.

Friday 17 April 2009

Vamos fugir

Vamos fugir, vamos fugir,
não interessa quem olha,
vamos desaparecer no combóio,
vamos daqui para fora.

Não há tempo para o telefone,
é melhor fugirmos,
porque aqui só se morre à fome
de inteligência e de sorrisos.

Não temos tempo para as malas,
estamos cheios de pressa,
vamos fugir, vamos fugir,
por aqui já nada nos interessa.

Não há ninguém para falar,
ainda bem que te conheci,
já tenho companheiro para sair daqui,
está na hora de fugir.

Wednesday 15 April 2009

When I fall in love - Nat King Cole

When I fall in love,
It will be forever,
Or I'll never fall in love.

In a restless world like this is, love ended before it has begun,
And too many moonlight kisses seem to cool in the warmth of the sun.

When I give my heart,
It will be completely,
Or I'll never give my heart.

And the moment I can feel that you feel that way too,
Is when I fall in love with you.

Menina a cheirar crisântemos

De vestido branco e colar dourado, a menina segura com a mão esquerda o vestido e apoia-se sobre o altar. Com um ar sereno e eterno no tempo, cheira profundamente o crisântemo num quintal acabado de ser acariciado pela chuva. A pedra do altar encontra-se molhada e escurecida pelo musgo gasto pelo tempo, dando-lhe uma purosidade característica. A terra escura e violada por punhados de ervas verde escura, selvagens, emanam a frescura da terra. Nas fronteiras da terra com os degraus, a mistura entre a natureza e a sociedade se faz, tudo resultado da soberania do homem pela terra, mas a menina rende-se à simples natureza.

Dois jarros pequenos e bojudos apoiam, como duas mãos, crisântemos vermelhos e rosas. É daí que todo o momento se concentra.

Para onde vão os degraus atrás de ti? Aonde te levam? Gostava de te conhecer pequena menina de olhos azuis.

Tuesday 14 April 2009

Em Belém

Belém tem sido o meu refúgio,
onde nas origens procuro te avistar,
talvez por estar junto do Tejo,
na brisa fria passo o dia a imaginar.

Talvez o meu desejo em estar numa nau,
soltar amarras, zarpar deste espaço contíguo,
das regras e obrigações diárias,
que são ar comparadas com o mar contínuo.

As obrigações do meu dia-a-dia,
são conquistas que não dou valor,
sou do mesmo corpo e espírito que tu,
sou um ser simples que gosta do amor.

Portas do engano

Procuro um buraco fundo,
o mais escondido possível,
onde nem as toupeiras chegam,
furado num sítio inimaginável.

Um lugar onde eu entro em ti,
ladeado pelas portas que mais quero,
onde nos encontramos, enfim,
e dali seremos felizes para sempre.

Mas perdi-me e fiquei preso,
com as mãos entrelaçadas em cânhamo,
entrei num não caminho para sempre,
por entre-portas do engano.

Estou a respirar os últimos fôlegos,
a cada arfo, mais um para o fim,
sem solução e após inúmeras tentativas,
apenas pelo coração ainda não morri.

Thursday 9 April 2009

O valor da música

A música é uma arte tão perfeita que ninguém está à altura de valorizá-la com o seu devido valor. A música é uma arte incompreendida, porque somos meros mortais a querer conhecer uma arte divina, daí a música ser tão especial.

Tendo o mesmo valor que a matemática, pintura, escultura e outras formas de arte, a música está sempre associada à essência humana e que nos é bastante importante - a natureza. É através dela que mostramos o que somos e muito mais. Muito mais, porque a verdadeira pessoa jamais consegue esconder o que realmente sente e por isso acrescenta sempre uma variância ao que faz e que se chama "estado de espírito".

Neste pequeno texto é possível ter-se uma breve ideia da importância da música e o que sentimos quando somos arrebatados por excelentes execuções perfomativas.

Friday 3 April 2009

Eu termino onde tu começas e jamais nos interceptaremos.

Thursday 2 April 2009

Amanhã

Eu caminho de encontro a ti,
com os olhos esperançosos de ver o fim,
da solidão que passo neste momento,
que é uma pradaria que termina em ti.

Por isso eu sei que estes dias que passo,
irão marcar o fim desta quimera,
e entregue na glória dos teus braços,
amanhã estarás à minha espera.

E a partir daí, nunca mais te largarei,
nunca mais quererás ir embora,
porque estaremos concentrados na vida,
e ficaremos agarrados pela noite fora.

Só estou para descobrir quem tu és.