Sunday 29 March 2009

Comment of Joe Strummer

"People can change anything they want to. I mean, everything in the world. Show me any country and there will be people in it. It's time to take humanity back to the center of the ring and follow that for a time. Think on that. Without people, you're nothing."

And I add it, without love, we're nothing. The future is unwritten.

Saturday 21 March 2009

Todo o amor do mundo

Todo o amor do mundo,
não chega para tapar os buracos
das estradas dos subúrbios,
onde as almas vivem penosas,
arrastando-se pelos cantos.

Com o despertar da manhã,
lança-se a rotina pelos dados,
os amores separam-se pela porta,
o resto fica deitado sob o tecto,
dentro dos lençóis enrugados.

O relógio toca por cada segundo,
com os olhos postos no fim-de-semana,
à espera da noite quente,
onde se possa encontrar um novo amor,
que se quer levar para a cama.

Mas as almas continuam esventradas,
porque o amor não foi encontrado,
porque o amor não serve de nada,
nem serve para ninguém,
porque o amor está amaldiçoado.

Friday 20 March 2009

Estas bocas esfamigeradas,
que olham para a comida
pelo prazer de devorar,
por sentirem-se superiores,
por um acto primário e natural.

Animais! São todos uns animais,
e já estou farto de vos aturar.

Tuesday 17 March 2009

Cantiga de Amor - D. Dinis

Quanto me custa, senhora,
tamanha dor suportar,
quando me ponho a lembrar
o que pensei desde a hora
em que formosa vos vi;
e todo este mal sofri
só por vos amar, senhora.

Desde o momento, senhora,
em que vos ouvi falar,
não tive senão pesar;
cada dia e cada hora
mais tristezas conheci;
e todo este mal sofri
só por vos amar, senhora.

Devíeis ter dó, senhora,
do meu profundo pesar,
da minha mágoa sem par,
porque já sabeis agora
o muito que padeci;
e todo este mal sofri
só por vos amar, senhora.

Sunday 15 March 2009

Tu na fotografia a preto e branco

A última vez que abri a janela,
encontrei o teu sorriso esbatido,
nas sombras da minha memória,
por detrás das janelas de vidro.

As sombras contornam o corpo
dos objectos que te fixam,
mas na essência te expandes,
para todos os que te admiram.

Eu sou daqueles que um dia,
gostava de te ter numa fotografia.

Friday 13 March 2009

Passeio na praia ao final do dia

Tantos grãos de areia espraiados,
milhares que desvanecem-se entre os dedos,
tantos infinitos nunca contados,
tantos mais que o paradoxo de Zeno.

Mãos gastas de tanto escavarem o tempo,
ondas de vento sob o sol pouco quente,
são tudo histórias guardadas em segredo,
que descrevem a praia sob o sol poente.

Cristais formados dos restos de sal
de ondas que ficaram por rebentar,
de um espaço que se expande mais que a alma,
num olfacto obcecado pelo cheiro do mar.

Os cargueiros navegam sobre o horizonte,
parte do mar esconde-se quando a maré vaza,
os pescadores recolhem as redes de manhã lançadas,
que foram remendadas para a próxima faina.

Que agora o mar revolto se acalme,
que na noite descanse deitado na areia,
que a lua e o sal purifique e cristalize
os decalques que ficaram de quem passeia.

Relógio de cuco

Tiago sente tremuras,
quando o cuco espreita por detrás da porta,
num rasgo periódico de uma hora.

Por detrás da madeira escura,
uma pupila aberta lança uma espada pouco curta,
voando do buraco da fechadura.

Nasce o medo dos que comem,
numa pândega folgada de gulosos e curiosos,
até os diabos brincam quando podem.

Riem-se com as mãos na pança,
soltam gritos que se repercutem no desapontamento,
tudo por um punhado de desgraça.

Thursday 12 March 2009

Hotel Babilónia

No Hotel Babilónia
nascem flores em cada piso,
nas sombras contam-se histórias,
surgem amores por entre narcisos.

As borboletas voam alegremente,
o ar puro ondula em correntes,
gravam-se linhas permanentes,
mensagens escritas nas paredes.

Flutuam pétalas vermelhas,
estampam-se sonhos nos tectos,
caem gotas brilhantes e translúcidas,
que despontam as vidas dos tontos.

Corre um rio por entre os quartos,
surgem cascatas no meio de tanta beleza,
ouve-se o ruído profundo da água,
vindo da garganta da natureza.

Tuesday 10 March 2009

Grito

Antes do sol nascer, deitado sob as estrelas,
Nú de alma e com o corpo desprotegido,
Grito a chamar o amor inesquecível,
Esperando que o corcel te traga a galope,
Logo que o céu e as núvens desvaneçam-se,
Aqueçam os restos que sobram de quem tem fome.

Deixa-me dedicar-te a minha vida,
Encontrar um caminho comum, amar-te,
Lutar para que a tua sombra não fuja,
Insistir para que não te perca de vista,
Cantar o mais alto possível para que ouças
Antes que eu parta e a memória enfraqueça,
Deus ordena sem piedade, isso não quero,
O que sinto por ti faz-me feliz.

Monday 9 March 2009

Ela não quer nada

Ela não quer nada de mim,
ela quer que lhe ignore,
que mostre desprendimento,
o que por dentro morre.

Ela pergunta-se porque faço isso,
porque de passo leve olho nos olhos,
vira-me a face para cortar laços,
ela não quer nada. Ela quer espaço.

Espaço, eu te dou, mas quero mudar o calendário,
avançar o tempo, saltar, aterrar certeiro,
encontrar o dia onde te encontro no diário
que escrevo e que tornou-se meu companheiro.

Por mim, não me quero separar,
por ti, quero morrer primeiro.

A estátua

Como consegues ficar tanto tempo inerte,
quais foram as mão que te fizeram,
conta-me em silêncio qual é o teu segredo,
como usaram o cinzel e o martelo.

Pode-se dizer que fizeram um bom trabalho,
és o resultado tirado das lascas perdidas,
desse lábio de mármore discreto,
enches o coração das pessoas que te admiram.

Sonatina

Num despertar tónico,
résteas de uma noite acidentada,
num arpejo maior e acentuado,
com que a manhã é despertada.

Sente-se falta do ritmo,
algo que faça nascer o contexto,
para ultrapassar a inércia do arranque,
conseguir levantar um sorriso e um balanço.

Caminhando, passa-se por silêncios breves,
salta-se repetidamente com impulsos secos,
começa-se num trilho suave e descendente,
termina-se em duplos breves tempos.

Os compassos passam maquinalmente,
porque assim foi escrito,
depois da primeira e segunda parte,
o fim chega cheio de ímpeto.

À sua própria beleza
solta-se o vestido,
as notas caem com certeza
por este breve sentido.

Sunday 8 March 2009

A incapacidade humana

A loucura está escondida na esquina,
faz parte da ousadia humana,
na ganância obscura da conquista,
que a distância da realidade profana.

Em pensamentos e ideais desenhados,
que na multidão desvia-se do caminho,
em seres escondidos encontrados,
que não resulta vivendo no pragmatismo.

Mesmo a palavra mais pura proferida
será naturalmente violada,
mesmo vindo da pessoa mais bem intencionada,
a palavra já está condenada.

As multidões infectadas pela ignorância,
que protestam na rua por qualquer preço,
por não terem opinião sobre o que defendem,
por não saberem se organizar no silêncio.

Se apenas parte do cérebro usamos,
menor parte é alcançada pelas palavras,
o quanto distantes ficamos de entendermos,
porque razão não andamos de mãos dadas.

Borboletas

Mil borboletas voam para que os teus sonhos vivam,
para que te sintas mais pessoa de ti,
dona da tua vida e da tua alegria,
em arcos deslumbrantes, é ao teu redor que elas brilham.

Sente-as com pujança, sente-as bem,
para que te sintas selvagem em remoínhos de vento,
te sintas tão próxima de ti como da escarpa,
te sintas em ti na noite, nas estrelas, na lua,
para que sejas mais tu do que mais ninguém.

Corpo

Quando o sol se põe e se apaga a luz,
o teu corpo entrega-se ao purgatório,
o peito esvazia-se em contra-luz,
agora é tarde para acreditar de novo.

Friday 6 March 2009

Os momentos que ainda não passámos, servem para nos lembrar que quando passarmos por eles, devemos recordar do tempo em que sonhávamos e idolatrávamo-os.

Thursday 5 March 2009

Notas

Choro de forma diferente,
choro até o meu coração esvaziar,
até a ausência me encher por dentro,
por saber que não posso te ver mais.

Ajoelho-me perante o piano,
pois a dôr adormece o meu corpo,
não tenho força para me levantar,
e lutar sem te ter ao meu lado.

É como dar um espectáculo,
para cadeiras vazias de alma,
as notas saiem sem fim,
porque não existe alguém para as ouvir.

Monday 2 March 2009

Surdez

As pessoas avaliam-te por palmos,
porque não sabem como te medir,
porque faltaram áquelas aulas
que nos ensinaram a ouvir.

Por muita raiva que te dê,
a maior tristeza é por não conseguir
mostrar o que mais queres oferecer,
pela outra parte ser dura de ouvido.

Contra o muro batem as tuas palavras,
contra a tua vontade o desentendimento se fez,
que no ouvido esquerdo e direito se alojaram,
vulgarmente denominada de surdez.

Como é bom alguém estar apaixonado

Como estou a planar,
a voar por entre nuvens e pássaros,
oiçam o meu coração a bater,
tic-tac, sinto-me arrebatado.

Canto, trauteio sem fim à vista,
ponho este chapéu nesta cabeça oca,
olho-me ao espelho, fito-me de cima a baixo,
danço enfeitiçado por essa moça.

Apontem-me os holofotes,
como é maravilhoso, delicioso, divinal,
não há estrelas suficientes neste espaço,
fato ou disfarce que esconda o seu ar jovial.

Vou pedir ao sol que te sorria todos os dias,
que todos se ajoelhem perante ti,
que os faraós gravados em pedra se inclinem,
vou tocar todas as notas de dó a si.

As fontes congelaram,
chove por toda a cidade,
mas é água perfumada em rosas,
gotas vindas dos sete mares.

Assobio pelos jardins do bairro,
cheiro as flores, colho-as num punhado,
encosto-as ao peito, prendo-as no casaco,
como é bom alguém estar apaixonado.

Sunday 1 March 2009

Lisboa

Lisboa, cidade descolorida e brilhante,
que já perdi o interesse em ti,
não que te tenhas tornado desinteressante,
mas quem te governa, me faz infeliz.

Neste país culturamente burro,
que perdeu os valores em deterimento da preguiça,
que esquece que é pelo esforço que um país se faz,
um país bem feito cuida bem das suas meninas.