Tuesday 23 September 2008

Cianureto para um adolescente

O jovem deita-se no chão a ouvir música, enquanto bebe num só trago cianeto. Fica virado para o tecto a ouvir os sons tubulares da música. Pequenas bolas distorcidas, vermelhas e verdes aparecem acompanhdas de pequenas dores. Os padrões repetem-se, a parede turva que sempre lhe assombrou, desvanece-se.

Ele sente os orgãos a pararem um a um, como se alguém estivesse a desligar os interruptores. E segundo a segundo, a morte vai-se construíndo e já está alguém pronto para entregar-lhe em mãos. É o fim sem algum retorno. As ideias de reencarnação deixam de fazer sentido para ele - o futuro termina aqui mesmo. Os olhos e o coração foram os últimos órgãos a despedirem-se da realidade.

Como tudo foi tão perfeito e deixou-lhe tão feliz neste último fôlego. Pelo menos, alguma coisa fez-lhe sentido nesta vida.



"So say goodbye to the vows you take,
And say goodbye to the life you make,
And say goodbye to the heart you break,
And all the cyanide you drank."

Monday 22 September 2008

Fantasma

Transformem-me num fantasma, levem-me até ao precipício e deixem-me cair. Deixem-me pairar no céu, sentir as folhas a cairem, as flores a florirem, ver-me a nascer, despedir-me dos meus pais, partir para a eternidade e ficar sentado no céu para sempre e observar o azul a nunca mudar de côr. Parabéns, rebentaram comigo.

Vida difícil.

Cada vez entendo menos o mundo, as pessoas e a minha cabeça. Tudo está confuso dentro de mim. Parece que o mundo goza comigo, estando sempre contra as minhas intenções. Faz de propósito para me ver a sofrer. Dá-lhe gozo torcer a minha cabeça. Como resultado estou a ficar maluco e estou a cair, a cair, a cair, e ninguém me vai amparar. Não sei o que se passa, mas está cada vez mais difícil viver. Está cada vez mais difícil ultrapassar o dia.

Não sei se mude de país, se começo a vaguear pelo mundo. Mas a vida está longe do que pretendo e não sei o que fazer para mudar. Preciso de pessoas para falar, preciso de confidentes, e todas as pessoas me viram as costas e ainda se zangam comigo se eu tentar falar com elas.

O que se passa? Alguém me diz???????? Eu não aguento tanta indiferença com a minha vida. Parece que querem me ver a morrer.

O meu coração salta do peito numa dôr esquisita, que nem sei explicar. É uma dôr que me vicia. Ao senti-la, sei que estou vivo, mas dói-me e deixa-me triste para o resto do dia.

Só me apetece meter a cabeça no meio de uma ventoinha e deixar que o vento faça o resto do serviço.

Saturday 20 September 2008

Gestos humanos

A tristeza em morrer, é ficarmos privados para sempre da beleza de certos gestos humanos. O beijo, o abraço, a simpatia, o companheirismo, a amizade, tudo do que existe de belo na essência humana desaparecerá para sempre. Por isso, não compreendo enquanto humano, que as pessoas estejam sempre a evitar e a destruir estes gestos durante o seu tempo de vida. Meu deus, como somos burros. As pessoas não percebem que ao evitar o que é belo, estão a cultivar o egoísmo e a inveja.

Neste mundo tudo é possível, porque Deus deu-nos a capacidade de fazermos o que quisermos. Apenas temos que ter a ousadia e coragem de fazer aquilo que gostamos.

Eu sei que esta esperança vã tem um preço elevado, e que muitas vezes pode custar a própria vida, mas é nisto que acredito e assumo o risco, porque assim é que sou feliz.

Eu sei que a vida é dura para todos, e compreendo as pessoas, mas muitas vezes parece-me que as pessoas não me compreendem, ou que me interpretam mal. Isso magoa-me. Mas eu quero que fique assente uma coisa, que eu respeito todas as pessoas e procurarei respeitá-las para sempre. Ás pessoas que não gosto, respeitarei-as, ignorando-as, porque elas próprias querem ser ignoradas por mim. Ás pessoas que gosto, estou sempre pronto para ajudá-las na medida do possível, porque eu sei como a vida por vezes é difícil. Todos nós passamos por momentos difíceis. Ás pessoas que preferem não ser incomodadas por mim, eu não falarei com elas.

Friday 19 September 2008

Adeus, nunca quiseste entrar

Enquanto dormes, eu penso em ti,
tento falar contigo, não consigo,
à minha volta só estão paredes,
são elas que ouvem o que digo.

Quando acordo, chamo por ti,
choro por não estares do meu lado,
apenas por sentir os lençóis
frios da noite, lisos de ausência.

Todas as noites são assim,
ao fim-de-semana dói mais,
adeus, nunca quiseste entrar
e nunca mais voltarás.

Eu vou conseguir guardar-te,
vou ficar com a tua imagem,
p'ra me acompanhares enquanto durmo,
aconchegar-me enquanto tremo.

Thursday 18 September 2008

Uma pessoa especial

Uma pessoa especial é aquela que continua a ser pessoa ao longo de todos estes anos e procura sempre afastar-se dos imediatismos e dos comportamentos inconstantes. Uma pessoa especial é aquela que trabalha diariamente para ser tão forte como uma árvore. Uma pessoa especial é aquela que parece que é uma árvore.

Uma pessoa especial é aquela que se distingue, que procura não perder os valores mesmo nas situações mais extremas. Uma pessoa especial é aquela que sabe que tudo tem um preço e que não se deixa enganar por ilusões e exageros.

Uma pessoa especial é aquela que pensa primeiro e que reconhece a importância de todos. Uma pessoa especial é aquela que primeiro preocupa-se com a outra pessoa.

É muito difícil ser-se uma pessoa especial. É um trabalho constante e por cada minuto que se descansa desta tarefa árdua é uma oportunidade para se desleixar.

Uma pessoa especial é aquela que procura encontrar o seu lugar no mundo.

Monday 15 September 2008

Os animais

Os animais são seres que são felizes em quaisquer condições. Eles só pedem uma coisa, que se chama liberdade. Eles não exigem, nem pedem nada, apenas querer viver como seres, da mesma forma que nós também queremos.

Os animais são os seres mais bonitos que existem e todo o ser humano tem muito a aprender com eles.

Wednesday 10 September 2008

Desculpa por isso

O que tu desejas não vai acontecer,
desculpa por isso, mas não tenho a culpa,
desculpa por isso, desculpa, desculpa.

O que tu sentes, jamais eu sinto,
nem pedindo a mil ventos vou sentir,
desculpa por isso, desculpa, desculpa.

O que te falta não te posso dar,
porque não me sintonizo contigo,
desculpa por isso, desculpa, desculpa.

Vou-me embora, tenho que ir para outro sítio,
tenho uma vida a cumprir,
adeus e desculpa, desculpa, desculpa.

Estar apaixonado

No mais profundo dos oceanos,
onde nem a minha alma sobrevive,
eu segui um caminho contra a luz,
à procura de um melhor sítio onde respire.

Avistei um vislumbre,
uma silhueta pouco definida,
mas encontrei os teus olhos
que me dizem como tu és bonita.

Estaria maluco se não te seguisse,
mas tu não queres que ninguém te siga,
vou-me embora porque chegaste,
abandono-me em deterimento da tua vida.

Todas as pessoas têm uma chance,
eu deito a minha fora por respeito,
muitas vezes saio desfeito,
não quero que fiques com despeito.

Não te quero incomodar nem por um minuto,
mas gostava que os meus sonhos se realizassem,
são forças antagónicas dentro de mim,
que procuro sobreviver na rotina diária.

O que eu dava por uma palavra,
por dizer um pequeno olá,
há coisas que pagávamos milhões,
só para não dormirmos com fantasmas.

Falta-me qualquer coisa,
talvez nevoeiro para me esconder,
uma brisa para ninguém perceber
que continuo no fundo do mar.

Tuesday 9 September 2008

Vida

Bêbado de tequilha,
deitado em água quente,
o vício da vida
a levar-me a mente.

Posso ficar sózinho,
ou em companhia,
neste quarto perdido,
perdido na vida.

Agulha aguçada
a furar o resto de mim,
a vociferar as veias,
a consumir o tempo sem fim.

Cada vez que tomo,
mais me enraizo,
abaixo das pessoas,
debaixo do teu passo.

Sunday 7 September 2008

ET

Sou um extra terrestre,
sei mexer em computadores,
sou verde como o laser,
conto binário até ao infinito.

Ouço sons estranho,
canto a altas frequências,
sou um sinal de rádio,
sigo a luz para todo o lado.

Ando aos saltos, estou maquinado,
repito o meu nome para não me esquecer,
bato, bato, bato como o coração,
bato, bato, bato contra a parede.

Wednesday 3 September 2008

Não

Ninguém se habitua a um não,
é o fim da estrada, um corte definitivo,
caminho sem volta, é quando ficamos perdidos.
Ninguém se habitua à rejeição.

Um não é quando chegamos a uma esquina,
é quando a parede que nos suporta, termina,
é quando o que sonhamos se torna em ilusão.
O não é o fim de algo, mas não é a conclusão.

Conclusão só terei quando morrer,
e mesmo assim tenho que me conformar,
só não me conformo enquanto vivo,
porque o fim não consigo controlar.