Sunday 31 August 2008

Espaço

Perdi-me algures no caminho da vida e da morte,
entre tantas opções tinha que parar num beco,
o crespúsculo solar esfaqueia-me sem piedade,
flutuo num espaço etéreo e eterno.

Não sei o que faça, nem o que possa fazer,
procuro o norte, mas o espaço não tem direcções,
tento orientar-me numa maneira de ser,
procuro todos os meios para sobreviver.

Procuro chamar por alguém,
mas a transmissor avariou-se,
encontro-me num silêncio profundo,
a ver o tempo passar num espaço sem dimensões.

PS: Chego à conclusão que as pessoas têm dificuldades em entenderem-se umas ás outras. O silêncio que tanto usamos para nos proteger, cria um barreira que desorienta quem está a tentar compreender o outro.

Wednesday 27 August 2008

Viver ignorante

A análise traz-me a desilusão,
a procura de uma solução
não passa de uma tentação
em querer regular o que não compreendo.

O meu coração fecha-se com tanta análise,
a procura de estratégias desfaz
as realidades que são capazes
de brilharem por serem o que são.

Vemos beleza pelos olhos da ignorância,
por ficarmos surpresos pelo que não percebemos,
por reconhecermos que jamais compreenderemos
o que vibra perante nós permanentemente aceso.

Vou viver ignorante porque nada faz sentido,
encontrar soluções harmonizadas com os outros seres,
porque o que hoje é, amanhã deixa de o ser,
mudam-se as ideias, mas a dúvida ficará sempre.

Que raiva!
You have been taught that there is something wrong with you and that you're imperfect. But there isn't and you're not. Someone thinks you're special. I hope you'll find the person and acknowledge it.

A vida hodierna

A vida hodierna,
que nos consome o espírito,
com precariedade e instabilidade,
vivemos num país fictício.

Numa sociedade nepotista,
comumente denominado de cunha,
procuramos viver iguais,
numa atitude que virou cultura.

Que raiva
por dificultarem-nos a viver,
a vida já é complexa o suficiente,
ainda querem-nos ver a sofrer.

Tuesday 26 August 2008

A vida inteira(não tem fim) - Dora

Não sei se é distração minha, mas nunca ouvi esta música portuguesa e é bastante bonita. Parabéns para quem escreveu a letra, para quem compôs a música e para a Dora que canta lindamente.


http://www.youtube.com/watch?v=r3tgerl8IMQ&feature=related

Portugal - isto é uma espécie de país.

Neste Portugal,
que se indigna com Salazar,
mas considera-o uma grande personalidade,
que vê tristeza na Severa,
mas que tem prazer em tê-la,
reclama por ser o que é.

Este Portugal
que adora o futebol
e rejeita os outros desportos,
que se considera importante
por não fazer nada,
critica o que tem,
esquece-se por onde vai.

Neste Portugal,
que ignora os concidadãos,
que rejeita a arte,
que expulsa o que outros países abraçam,
anda espantado por ser o que é,
e sabe que não quer mudar.

Este Portugal,
que quer continuar a fingir,
a liberdade nunca chegou cá,
porque liberdade significa variedade,
e todos abraçam a mesma côr,
a tacanhez matou-nos ao nascer.

Vou ligar a televisão,
e ver o Vasco Santana,
vou ligar a rádio
e ouvir Madalena Iglésias
em pleno 2008.

Só agora é que reparo
que existem os Xutos e Pontapés,
é porque a idade dá-lhes direito à atenção,
mais vale ignorar as pessoas que estão a crescer,
e louvar o passado, que o presente é para esquecer.

Flôr inquinada

Antes de ires para o trabalho,
apagas o gás, fechas a porta,
metes-te na roda mecânica do motor,
arrancas em piloto automático.

Raia, seguido de riscas,
metro atrás de metro,
vais porque tens que ir,
porque não sabes como descobrir,
como compensar o tempo,
como viver num espaço perdido.

Quando eras criança,
brincavas por brincar,
andavas com os teus amigos,
saltavas por saltar,
que ninguém se importava.

Agora que te tornaste adulto,
os teus companheiros são as contas
que chegam ao correio sem pedires,
apenas tens que pagar com o teu sofrimento,
com o que sofres por teres um trabalho qualquer,
por perceberes que ninguém se interessa por ti,
porque os teus pais morreram e estás sózinho.

Tentas florir na vida,
mas estás condenado a morrer já no princípio,
só encontras poluição,
todos querem levar-te até lá,
todos querem ver-te a morrer,
a definhar, porque não te conhecem e têm inveja de ti.
Morre, morre, porque assim já não me fazes sombra,
e como ganho poder com o sofrimento dos outros,
e isso dá-me prazer.

Friday 22 August 2008

No topo do edifício

No topo do edifício, mais perto do céu, atirei todas as minhas recordações. Elas bem tentavam retornar, mas não as agarrei, porque nunca as quis. Queria que o vento as levasse, queria que elas se fossem embora. Só me deram tristezas e amarguras, felicidade - zero. Todo o meu esforço nunca foi acompanhado pelos meus sonhos. Talvez sonhava em demasiado, talvez não nasci tão afortunado.

Como corri tantos quilómetros atrás da felicidade, mas ela fugia no combóio e eu corria a pé. Tantas vezes arfei, esgotado até ao último fôlego, agarrado aos joelhos, mas ela continuava sem remorsos. Tantas vezes que isto me aconteceu, sempre em ciclo, sempre em ciclo.

Fim-de-semana

O fim-de-semana descreve-se,
onde na sexta se ascende,
no sábado permanece-se eterno,
e no domingo desce-se à realidade.

Nos braços de alguém,
na rua ou em casa,
o fim-de-semana apenas dói
a quem sózinho o passa.

Thursday 21 August 2008

A noite e o silêncio

Sobre a chuva intensa espelhada na calçada,
reflecte uma noite escura e podre,
por entre os faróis amarelos,
côr de uma poluição assente,
momentos de miséria na rua descendente.

Não sei se já estou inquinado
pela desgraça e destruição,
ou apenas escrevo o óbvio,
que muitos olhos já confirmaram,
muitos carros já pararam,
para tirarem momentos de satisfação.

O silêncio da noite fria,
onde as almas estão adormecidas,
por detrás das costas das crianças,
o futuro que um dia
pertencerão às vidas perdidas.

Tuesday 19 August 2008

Cada vez mais tenho a necessidade de fugir do mundo. Algo não entra em harmonia com a minha vida. Já lá vão os tempos em que a reflexão era um acto que merecia grande atenção e havia guias nas pequenas viagens espirituais. Hoje em dia, a exigência de estarmos sempre à altura dos problemas diários, apaga todo o tempo reflexivo.

Quando não nos aceitam pelo que achamos que são as nossas virtudes, mais excluidos andamos metidos na sociedade. Aí está uma bela porcaria fabricada pelo Homem.

O próprio poder da negação, já é mais do que suficiente para levar-nos a um cenário desagradável. Cada vez mais compreendo porque é que os loucos ficaram loucos.

Monday 18 August 2008

O poder da dúvida

O que mais me chateia em alguém, é quando o silêncio é usado como resposta. É claro que existem situações em que o silêncio é a melhor resposta, mas não no caso de dúvidas. Se alguém tem uma dúvida, espera-se que apareça uma resposta para esclarecê-lo. Quanto mais pessoal for a dúvida, mais doloroso o silêncio se torna. Uma pessoa acaba por se perguntar se o próprio silêncio que está a receber já é a resposta.

O silêncio desorienta uma pessoa enquanto existe uma relação comunicacional entre seres. Simplesmente, porque uma parte não sabe o que há-de fazer a seguir. Essa parte deve virar as costas e continuar a sua vida, ou deve insistir na pergunta?

Perante este caso, a dúvida ficará bem viva na cabeça de quem tem a dúvida.

Friday 15 August 2008

As flores

As folhas são o derradeiro paraíso dos loucos. São elas que lhes dão cobertura e protecção de um mundo exterior caótico, em que todos se julgam sãos. A rua é o purgatório de almas estéricas que ainda não reconheceram o seu estado. Apenas estão à espera que a mão divina os leve.

Por entre as ramagens frondosas, escondem-se os olhos de vítimas silenciosas. Eles sofreram durante a juventude, e a dureza da vida calou-lhes a alma. O que lhes resta é uma dôr espacial, como se lhe tivessem metido dentro de uma câmara de vácuo. Nada lhes sobra. Não sabem o que são, perderam o rumo e a inércia apoderou-se das mentes e membros.

Na sombra das folhas, escondidos nas ramagens, sentem uma humidade sã, protectora da vida. As formas circulares das flores demonstram como a perfeição existe num mundo irracional. As flores representam o amor, o princípio da vida brotado do chão. As flores são provas como ainda estamos vivos e precisamos delas para viver.

Vivam as flores, viva o amor, viva a vida.

Monday 11 August 2008

The Story - Brandi Carlile

All of these lines across my face,
Tell you the story of who I am,
So many stories of where I've been,
And how I got to where I am.

But these stories don't mean anything,
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you.

I climbed across the mountain tops,
Swam all across the ocean blue,
I crossed all the lines and I broke all the rules,
But baby I broke them all for you.

Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
You do
I was made for you.

You see the smile that's on my mouth,
It's hiding the words that don't come out,
And all of my friends who think that I'm blessed,
They don't know my head is a mess.

No, they don't know who I really am
And they don't know what
I've been through like you do
And I was made for you...

Saturday 9 August 2008

Sonhos e no final, nada!

No oceano mais profundo,
encontro os teus olhos densos,
porque hei-de ficar,
porque hei-de esperar.

O que quero não acontece,
nem um milésimo de acontecimento,
tenho nada e uma mão cheia de lágrimas,
e esperanças podres do momento.

Tenho sonhos, cenários, actores,
não me falta imaginação,
falta-me a realidade e a alegria
que tanto sonho e anseio com paixão.

Tenho coração e alma,
mas estou a plantá-los sob pedras,
porque não encontro terreno fértil,
que me leve até ao céu.

Tuesday 5 August 2008

Reflexão sobre mim

Quando estamos na verge da mudança e não sabemos, a vida torna-se estranha. Neste momento, penso onde estarei para a semana. Espero que esteja feliz e não cheio de ilusões. Nada depende mim. Tudo depende da vida. Espero que os violinos embalem-me para um caminho bonito de se ver. Quero que a minha vida seja como uma paisagem de uma montanha verdejante que se encontra no horizonte. Que o ceú azul transpareça a alegria. Quero ser feliz o mais depressa possível, porque não aguento sózinho mais o presente. Estou bastante cansado.

Nesta vida

Pai, pai, adoro-te. - diz a pequena filha, enquanto abraça-o com ternura e inocência. O vestido de tons de rosa e branco esvoaça livremente. O vento afaga as duas almas. Neste momento, o mundo pertence-lhes. E como eles merecem. Como todas as almas mereciam ser felizes para sempre. De que vale a vida, se a alegria não existe. De que vale o mundo sem beleza.

Neste momento chorei, baixei a estúpida guarda ao qual sou obrigado a edificar cada vez que ponho o pé na rua.

Não se esqueçam do amor. Ele existe e é a coisa mais preciosa ao cimo da terra.

Reflexão sobre o quotidiano

É com muita tristeza minha que reparo diariamente que o aumento da exigência da sociedade obriga as pessoas a andarem sempre aceleradas e de forma automática. A função de piloto automático já é usado por muita gente. As pessoas andam cada vez menos a pensarem nos valores que sustêm a sociedade, acreditam menos nelas próprias, não se respeitam e agem cada vez mais impulsivamente, tomando comportamentos que sabem à partida que são aceites pela sociedade. As pessoas copiam-se umas ás outras, para não serem diferentes. As pessoas têm medo de se descobrirem.

Todos precisamos de dinheiro para viver, e essa mão invisível e regida pelo tempo, empurra as pessoas para um precipício - a própria morte. Quando a hora de transpôr para um novo mundo chegar, hão-de olhar para trás e ver como o tempo passou e perderam o que o mundo podia ensinar.

É pena ver isto acontecer diariamente. É pena eu também estar inserido neste caminho horrível.

Monday 4 August 2008

Pequeno conto do João

João sentava-se sempre no mesmo canto a observar a mesma rapariga. Como o coração floria por cada segundo em que olhava para o horizonte. Mas João tinha medo do embaraço, tinha medo de ser gozado por todos. João tremia cada vez que pensava se isso lhe acontecesse. Em contrapartida, defendia-se com o seu pensamento favorito - "Ai se um dia...".

Os meses foram passando e João continuava sempre no mesmo canto, sempre com a mesma esperança e o mesmo olhar inocente. Tudo parecia permanecer igual, mas João estava diferente. O embaraço transformou-se num silêncio enorme e doloroso. João começou a sentir o peso do silêncio sobre os ombros. A cada dia que passava, o peso foi-lhe aumentando e entortando as costas. João deixou as dúvidas governarem-no e foi trocando todos os ideais que acreditava pela esperança de um dia receber um sorriso.

O preço de ser mediano

O pensamento mais alegre que tenho por ser mediano, é que jamais serei internado num manicómio, como Cantor ou Boltzmann, porque jamais desafiarei as fronteiras da lucidez impostas pela sociedade. Por vezes, a estupidez vem mesmo a calhar.

O sonho de qualquer Homem é ser seleccionado por Deus para mostrar um caminho à sociedade. Isto é a coisa mais bonita que pode acontecer, mesmo que muitas vezes o preço a pagar seja a morte prematura. Não quero vender a minha alma a qualquer preço, e tenho que ter cuidado para que o mal me apareça à frente mascarado em Deus. Mas uma pergunta impõe-se neste momento. Será que a estupidez realmente é importante, ou seremos mais felizes sem ela? Será que a estupidez ajuda a equilibrar o mundo?

A vida é um aglomerado de flocos de neve que não se derretem e que nos vai enchendo de magia. Magia - a palavra mais bonita que existe.

O embaraço é uma nuvem que ofusca-nos o caminho. O medo do embaraço transforma-se em silêncio à medida que vai aumentando. E o silêncio dói imenso. A dúvida já é dura o suficiente e não vale a pena endurecê-la mais um bocado.

Estes pensamentos são importantes e não devem ser descurados, porque é apenas em vida que podemos resolver estes problemas. Não há que ter medo do embaraço, nem dos ideiais que nos formam e que nos traçam objectivos. As dúvidas jamais deverão governar-nos.