Saturday 31 May 2008

Quantas vezes

Quantas vezes dizemos amor,
quantas vezes nos repetimos,
quantas vezes mostramos
que prestamos o devido valor.

Quantas vezes fazemos,
se calhar até são poucas,
se calhar somos burros
e enchemos a boca de palavras.

Comos gostamos de nos enganar,
fingimos que somos inteligentes,
mas do simples, não fazemos nada,
somos autênticos deficientes.

O meu mundo

Vaca colorida,
que pastas de manhã,
aqui vem o maquinista
agarrado ao seu trem.

Um castor de bóina
carrega na alavanca,
uma toupeira imunda
enche a caldeira.

No sol pardo da manhã,
as pessoas andam ao contrário,
a chuva que cai de baixo,
molha a árvore que nasce amanhã.

Como estás contente,
porco de boca aberta,
estás à espera que te preencham
e te encham a barriga com moedas.

Tudo o que eu quero,
é paz dentro de mim,
por favor, dêem-me razões
para ser feliz.

Sol

O meu sol é a luz que me bate,
é dela que sinto o calor,
do holofote que me ilumina,
numa noite sem côr.

É no público que bate o coração,
da música sai a voz,
e deste espaço reduzido
tudo se funde num nós.

Gritemos em voz bem alta,
"- Queremos paz, já!",
temos que acabar com esta revolta,
o mundo sózinho não se faz.

Gosto de ti

Os teus olhos inocentes,
vindos de um passado feliz,
que permanece até ao presente,
e que tanto me diz.

São beijos de amor
que me dás todas as manhãs,
em ti não existe rancôr,
apenas uma alegria sã.

A tua mão puxa-me para ti,
cuidas de mim como um filho,
sabes que eu gosto de ti,
e o teu nome profiro

Friday 30 May 2008

Mistérios da vida

Tinha a falsa crença que conhecia-me melhor, que não iria ser apanhado pelos mesmos erros. Alguém joga connosco o jogo dos desencontros. Entre os vários lançamentos, vão-nos dando a falsa esperança de que temos que acreditar. O objectivo do jogo é ver como reagimos aos nossos medos. Como regra principal, tudo aquilo que tememos, vai acontecer. Trata-se de um destino fatalista. Por muito que procuremos fugir, é para lá que caminhamos. É de certeza um mistério que merece ser estudado e levado a sério.

Thursday 29 May 2008

Respeitar o nosso semelhante

Eu sou um vértice de uma onda numa miríade multiplicada pelo infinito. Todos juntos temos que criar um mar calmo, sem revolta. Se não agirmos cooperativamente, criaremos uma mar revolto, cheio de raiva sem sentido e de desrespeito com o seu próprio corpo.

O mundo é um lugar mutável. Os humanos não pertencem à natureza porque fugiram dela há muito tempo. Os humanos agora têm que respeitar a natureza, respeitarem-se a si próprios. Só assim, permanecerão mais tempo em paz.

Usamos os edifícios como fachada, para esconder o desrespeito que temos com o nosso semelhante. Isto é um sinal que estamos no caminho errado. É extremamente chocante quando, em momento de guerra, uma cidade é arrasada. Cada lugar tem uma história de esforço humano que pertence ao passado de muitas pessoas. Arrasar algo, é estar a apagar um pedaço de história e esquecer as almas que viveram lá. Ninguém gosta de ser obrigado a sofrer. Respeitemos o semelhante.

Existem pessoas que são privadas de comer, de terem educação, de chorarem. São violadas, são assassinadas, são escravizadas. O tempo jamais as recordará. Se o espírito humano não denunciar e tentar reverter estas situações, estamos destinados a sofrer até à extinção da humanidade.

Cada um de nós tem um papel muito importante neste mundo. Basta descobri-lo. Em vez de passarmos o dia a ver telenovelas, a desdenhar de terceiros, temos que ter a iniciativa de querer mudar o mundo para algo melhor. Isto só acontece, se cada um de nós aprender a explorar-se, a querer arriscar e a aceitar a incerteza como algo certo na nossa vida.

Estamos neste mundo temporariamente. Tornemos a nossa vida interessante.

Tuesday 27 May 2008

Stop the Clash of Civilizations

http://www.youtube.com/watch?v=WWyJJQbFago

Beginning and the end

Some say that's the end,
others that's the beginning,
depends on your perspective,
depends on your vision.

If you planned your future,
you're entering a new phase,
If you haven't got nothing,
you're lost, some say.

Ida a Fajarda

Numa viagem a Santarém,
chego à terra de Fajarda,
o que apenas encontro
é uma tabuleta baleada.

Olho à minha volta,
vejo casarios de ciganos,
não quero fazer insinuações,
porque não tenho esse direito.

Não sei se os tiros vieram deles
ou foram para eles,
sei que deixaram rasto,
buracos, muitos buracos.

Saturday 17 May 2008

A luta

Eu tento jogar uma tripla,
porque não posso perder,
toco "blues", "rock" e baladas,
tenho que agradar toda a gente.

Neste mundo, onde tudo é precário,
tenho que esticar as cordas para todos os tons,
tenho que forçar os dedos com todos os sons,
tenho que ser destemido e temerário.

Tento ser alguém,
mas as notas não são suficientes,
sinto-me a perder o gosto,
porque não me dá alimento.

Liberdade

Ora seja,
como eu queria,
nem que seja por
poucos minutos,
daqui a diante,
partir sem destino,
sem caminho.
Que maravilha!
Oxalá chegue ao outro canto
e encontre o conforto,
que tanto anseio.

Espírito santo,
pelo menos respiro,
filho pródigo,
que outrora
foi fugitivo,
revolucionário.
Revolução,
cravos e caravelas,
procura o sentido
da liberdade
e deixa ser o que é.

Thursday 15 May 2008

Na lua

Eu quero sentar-me na lua,
quero pisar os buracos,
quero pular de alegria,
quero sentir-me leve,
quero estar rodeado pelo vazio,
quero sentir o infinito,
quero estar no reino das possibilidades,
e na verdade, quero sentir
todo o meu esplendôr,
perpetuá-lo no tempo.
Só aqui serei feliz,
porque não terei sombras,
no astro da noite,
as almas estão reunidas,
as presenças estão desaparecidas,
a concorrência não existe.
Aqui posso sentar-me
e apreciar a paisagem,
porque para observar,
temos que estar parados,
e sentirmo-nos despojados,
de todas as distrações.
Aqui, sou feliz,
porque não tenho motivos para o contrário.

Wednesday 14 May 2008

Passeio

Estava a passear na rua,
e o cheiro a farturas,
veio da roulote da esquina.
"- Ó Dona Etelvina,
avie-me uma,
juntamente com um cheirinho,
para ver se não me engasgo,
porque ir ao hospital,
por um doce destes
é um azar dos diabos."
De boca e mão cheia,
bebi o resto num trago,
para prosseguir o meu caminho.
"- Adeus, Dona Etelvina,
tenho que continuar,
a minha mulher está à espera
das compras na cozinha."

Com as mãos atrás das costas,
de cabeça para o ar,
aproveito o tempo como quero,
gozo a reforma por inteiro,
o salário, querem-me tirar,
posso ter pouco, mas sou feliz,
e não tenho que me preocupar.

Tuesday 13 May 2008

Magia

Há coisas que não se compreende.

Uns nascem virados para o sol,
outros vivem p'ra lutar,
uns nascem para morrer,
outros não saem do mesmo lugar.

O que tu és no presente,
é o resultado do passado,
o que fazes no momento,
vai vibrar em algum lado.

As cordas que ligam a vida,
milhares no seu total,
mexem-se a cada acorde,
no vazio, o som é brutal.

Não chores mais.

Thursday 8 May 2008

Blues of despair

I feel the blues,
when the sun rises in the morning,
my night of sleep,
ends in a mourning.

I try to be good,
but I awake to reality,
when I miss the food.

I work all day,
in something that I hate,
I nail the shoes
that some rich will purchase.

My life is ruined,
but I should be playing,
the blues all day.

I prefer to be naked,
but I ain't got the guts,
I prefer to be a hobo,
some say that I'm nuts.

But if I don't sing,
don't sing to my love,
my dreams will faint,
the blues will go away.

Viver na tecnologia

Liberdade num transistor,
limitação vinda pelo fio,
no mundo do semicondutor,
respiro silício e germânio.

Procuro descobrir-me,
por detrás de uma secretária,
esforço em ouvir-me,
nas oito horas diárias.

Que coisa mais estúpida que faço,
mas preciso de alimento,
se quiser liberdade, fico desempregado
e não tenho mais algum sustento.

A sociedade cada vez mais
impede as fugas da imaginação,
se procuramos ser normais,
mais nos dissolvemos na multidão.

Gota de água

Para esta gota de água
que desta mangueira nasce,
que gera o verde perpétuo
dos campos que floresce.

Aonde chega, toca e molha,
traz alegria e vida,
para onde quer que se olhe,
vemos como ela brilha.

Cria alimento aos homens,
traz paz todas as manhãs,
tira a sede a todos os povos,
faz o dia fluir até amanhã.

Por onde cai as cataratas
nasce uma paisagem bela,
encontra-se nas lágrimas,
de alguém que acabou de vê-la.

Todas as gotas sustentam
marinheiros sem rumo,
as caravelas que zarpam,
navegam para um novo mundo.

Sunday 4 May 2008

Eu sei como é

Eu sei como é,
sou cinzento por alguma razão,
todos querem-me passar a mão,
mal eu me vá embora,
espetam-me facas nas costas,
eu sei como é.

Tenho cara de mau,
não receio em atacar,
passo a vida calado,
quem se mete comigo
está acabado,
eu sei como é.

Eu fiz um pacto com o Diabo,
comigo já estão marcados,
são todos uns safados,
e agora estão bem tramados.

Quando menos esperam,
caem e já não se levantam,
para quem se arma em esperto,
eu ando sempre por perto,
por isso desapareçam,
antes que levem uma sova a sério.

Para quem me quer dar lições,
não tem moral para me dar sermões,
tiro sempre cartas da manga,
preparo-me para quem me trama,
eu sei como é.

Mel

A abelha sustenta-se com mil batimentos por segundo. Entre o amarelo e o preto riscado, o corpo baila à medida que retira o néctar e o polén da flôr. Visita a mesma flôr várias vezes, até que fique parda, escura e monótona. Na chegada à colmeia, passa o néctar de abelha em abelha, com o objectivo de engrossá-lo e transformá-lo num alimento que nos é delicioso. O doce mel.

Thursday 1 May 2008

Eu sou...

Eu sou um espermatozóide,
daqueles que morre a tentar,
guarda mil sonhos em si,
mas não consegue ganhar.

Empurram-se na multidão,
lutam para o tal lugar,
tantos pontos de interrogação,
tantos que querem acreditar.

Sempre resguardado atrás,
delicio-me a sonhar,
eu perco a noção do tempo,
eu perco o meu lugar.