Saturday 15 March 2008

Vida no profundo oceano

No mais profundo ponto, lugar onde a imaginação não chega, a natureza consegue atingir com a mesma força como atinge qualquer parte do mundo. A luz não conhece o caminho até ao fundo do oceano, a água permanece estável sob uma grande pressão, milhões de bolhas de cinza saem das pequenas crateras ancoradas na rocha em forma de bilha, mas existe sempre o movimento característico dos seres vivos. Chegamos a este destino graças às máquinas, graças à matéria-prima transformada em instrumentos úteis apenas para os humanos.

Vários peixes, moluscos e crustáceos cumprem o ciclo da vida. Não sei se está correcto em afirmar um ciclo, porque neste local a escuridão é imutável. Peixes sem boca, apenas com um orifício rodeado de dentes pontiagudos perpendiculares à cara, movimentam-se em pequenas tiras negras à procura de comida para sugarem. Outros peixes tentam pintar o escuro com rosáceas violetas que brilham na pele a cada respiração. Tubarões de quatro metros e duas toneladas de força cortam a água a uma velocidade absurda. Polvos morcegos, na forma de uma mão fechada em cone, voam ilusoriamente a cinquenta centrímetros do chão arenoso. Caranguejos escondem-se nas rochas para sobreviverem.

A natureza manifesta-se em milhões de formas inimagináveis, mas sempre com as mesmas regras. Com todo o desprendimento próprio de saber que é diferente, gera vida em qualquer parte que toque.

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