Monday 31 March 2008

Cancro

Quando os teus olhos forem-se embora
inesperadamente, sem deixar uma despedida,
deixar-nos-à desamparados, nús de alma,
entregues a nós, entregues à vida.

A tua juventude foi substituída
por esse cancro, células malignas
que se alojaram em ti, inquinando
o teu sangue, infectando a nossa família.

Rodela negra, inconsistente,
donde todos os vermes brotam,
sanguessugas nojentas e letais,
essas larvas que te derrotam.

Deus deu o sol, as crianças e a vida,
como também trouxe a renovação,
a cada dia que passa somos mais mortais,
mais figadais às nossas vísceras.

A vida goza, manda, estipula o nosso destino,
sem dó nem piedade. Diz quem fica e quem vai,
quem sofre e fica sem pai. Só nos resta levantar a voz
e honrar todos os homens que pereceram antes de nós,
antes que seja tarde de mais.

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