Sunday 3 February 2008

A pequena flôr

Houve uma vez que encontrei uma flôr. Era uma flôr tão bonita e delicada que nem as palavras conseguem descrevê-la. A inocência da flôr - uma simples margarida, ainda me faz chorar.

Em um dia chuvoso, mas protegido pelas ramagens, conseguia-se passear agradavelmente pelo pinhal. As pinhas estalavam inchadas de água, o cheiro da terra molhada e a grande quantidade de pinheiros mostrava como a natureza consegue ser tão fria.

Andava de cabeça baixa e coberta pelo capuz, para evitar os pingos de água na cara. Num dado momento, reparei no pequeno ser que permanecia viçoso sobre um terreno lamacento.

As gotas que caiam como as notas de Chopin, reflectiam o esplendor das pétalas. O centro da flôr vibrava energia como o sol fazia atrás das nuvens.

Ajoelhei-me e tentei tocar-lhe mas a flôr fugia com o vento. Ela mexia-se como uma rainha. Tentei cheirar-lhe mas ela continuou a ignorar-me. Após várias tentativas comecei a achar que a flôr não ficou admirada com a minha atenção. Talvez ela soubesse que era demasiado bonita e eu não lhe causava interesse. Provavelmente, eu era mais um dos seus milhares admiradores que passavam diariamente pelo mesmo caminho e que a contemplavam.

Fiquei triste porque eu sabia que estava a ser sincero. Tinha oferecido de livre vontade o meu coração, os meus olhos e a minha alma. Não a culpo por não ter ficado admirado com a minha atenção. Questiono é porque as pessoas apregoam que devemos ser sinceros connosco próprio. Mesmo que não se queira, a indiferença acaba sempre por nos magoar. A indiferença é o maior muro de arame farpado que se pode pôr entre dois seres. Eu lá estava ajoelhado perante a pequena flôr e ali fiquei por vários dias a arranhar-me.

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